O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 09, 2003




AS MULHERES TAMBÉM SÃO GENTE...

Sempre que transcrevo um texto ou uso um excerto em que aparece a expressão: “os homens” no sentido da humanidade, em que obviamente as mulheres são aglutinadas ao termo, adopto a expressão mais abrangente e a meu ver mais correcta de “ser humano”. Faz-me alguma confusão estar a ler certas autoras e vê-las persistentemente falar no masculino mesmo quando podem recorrer a esta expressão já que não iríamos dizer “as mulheres” incluindo os homens pois pareceria imediatamente caricato e depreciativo...Se fizermos isso, sobretudo nós mulheres, as ignoradas pela semântica, poderemos estar de forma muito subtil, mas efectiva a transformar a linguagem que é à partida só dos homens. Como sabemos, podemos estar seis mulheres adultas juntas a falar, mas se houver um rapazote no meio somos obrigadas a vergar o verbo à sua supremacia linguistica e isso eu não aceito...
Teremos efectivamente de recorrer ao sentido neutro da expressão ao referirmo-nos aos dois sexos, por exemplo, podemos dizer: a pessoa humana, o ser humano, a criatura de deus...ou a gente, pois todos somos gente, pessoas, seres humanos e em suma, criaturas de um deus, partes de um deus maior, o nosso próprio ser completo!

Assim como somos todos filhos da Grande Mãe Terra e do Céu.
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A NOITE UTERINA

“Os seres humanos sempre souberem, no mais recôndito de si, que algo de essencial se passava dentro do ventre da mãe que os concebeu. Desde que possa livrar-se da canga rígida da educação, cada ser humano sente que existe uma realidade inegável embora difícil de detectar. Mas aquilo que durante algum tempo continua oculto não deixa por isso de ser concebível. Assim, desde as entoações cantadas pelos poetas de todos os tempos para exprimir as ressonâncias desta vida uterina preexistencial até aos sentimentos mais finos e ainda mais subtis que se inscrevem e se imprimem com força na carne de cada um num diálogo com a própria vida, tudo nos revela esta percepção primeira. Ela funde-se - não é verdade? - em cada célula, agindo como a própria expressão da criação que se incarna. É de salientar apenas a acuidade poderosa e sensível em que o ser humano consegue sentir-se arrebatado, talhado no ventre materno pelo gerador da vida:”

“Nada nos fios da minha estrutura Vos é desconhecida; e todos eles foram escritos no Vosso livro; cada dia da minha vida foi prefixado, antes que um só deles existisse”

Salmo CXXXIX

A.A.TOMATIS - Autor do Livro "Noite Uterina"

MEIO SÉCULO DE VIDA

“...antes do meio século, meus amigos, ninguém tem história. A história de uma mulher galante, dum político, dum artista ou até dum homem comum é, acima de tudo, a história da sua consciência, movida não só por circunstâncias, mas também pela sua realidade como ente de memória, como testemunha. Aos quinze anos tem-se um futuro, aos vinte e cinco um problema, aos quarenta uma experiência; mas antes do meio século não se tem verdadeiramente uma história.”

AGUSTINA BESSA-LUÍS
In O SERMÃO DO FOGO


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