OU A BUSCA DO PRINCÍPIO FEMININO
Durante os sec. XI e XII, as mulheres da Provença eram tidas em alta estima. Um exemplo clássico dessa “mulher livre” no mundo medieval foi Leonor de Aquitânia (1122-1204), cuja notoriedade e poder como esposa e mãe de reis abanou a Europa durante décadas.
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Em 1209 o Vaticano lançou uma cruzada contra a região da Provença, incluindo as famílias nobres, muitas das quais tinham abraçado a heresia cátara.
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A Inquisição, formalmente instituída em 1233, interrogava e sentenciava impiedosamente os hereges e executou milhares: Os seus registos nem sempre são claros quanto ao que os eclesiásticos de Roma achavam ser crenças hereges. De facto, a maior parte dos documentos da heresia de Albigense foi destruída. Naturalmente, não era do interesse do Vaticano e do seu braço direito, a Inquisição, guardar documentos que poderiam disseminar as mesmas doutrinas que eles tentavam desesperadamente expurgar.
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A campanha impiedosa da Inquisição contra a heresia albigense e as famílias proeminentes da Provença, muitas das quais tinham membros Templários, esmagou rapidamente o botão do feminino e os seus corolários ramos da arte e da ciência. Louis Charpentier, no seu livro OS MISTÉRIOS DA CATEDRAL DE CHARTRES, diz que o Espírito que inspirou as autênticas Catedrais Góticas morreu inexplicavelmente depois de 1250, se bem que tenham continuado a ser construídas cópias “virtuosas” e flamejantes.
Talvez possamos explicar esta fuga do Espírito. O ano de 1250 corresponde ao poder cada vez maior do inquisidores, à devastação da Provença e à destruição da fortaleza de cátara de Monségur. Não admira que o Espírito tenha fugido! As tentativas posteriores de restaurar o feminino foram severamente reprimidas e os místicos, os artistas e os cientistas da igreja herege foram forçados a prosseguir os seus interesses em segredo. As disciplinas da medicina, da alquimia, da astrologia, do misticismo e da psicologia que tinham florescido foram forçadas a entrar para clandestinidade e passaram a ser denominadas “ocultas”.
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NOTA À MARGEM:
Agora que a Mulher recomeça a tomar consciência do seu Ser e dos seus direitos e da exploração de que foi alvo e a querer sair do gueto social e psicológico a que a sociedade e a Igreja a condenou após a destruição do ressurgimento desse princípio através da demanda do Santo Graal, mais uma vez apagado e deturpado pelo poder de Roma, de novo a Igreja parece querer impedir essa consciência e deturpar o movimento de libertação das feministas no mundo, acusando-as de desfazer a família . Aprisionando as jovens crentes pela submisão ao pater na sua teia secular estão agora a alastrar os seus tentáculos na exploração do culto da Nossa Senhora, como “mãe imaculada” (que concebeu sem pecado ) e não como Mãe e Mulher, tal como o fez há séculos.
Será que o Vaticano e os seus acólitos com os seus dogmas e misoginia, com o seu ódio e repulsa ancestral pelo corpo da mulher, impedirão de novo esse equilíbrio e recuperação da dignidade da Mulher?
A perda do feminino no mundo para além de originar o agravamento da exploração da mulher pelo homem, em consequência do seu rebaixamento social e humano, também agrava a condição da humanidade em todos os continentes.
A mulher tem sido sucessivamente, ao longo da história do patriarcalismo, rebaixada a uma condição vil e inferior e essa é uma constante da luta férrea da Igreja para destruir tudo o que diz respeito à liberdade da mulher e à possibilidade de um equilíbrio entre os sexos pelo restabelecimento de uma Nova Ordem que funcione em paridade e respeito por todo o ser humano, restituindo à Mulher a sua integridade, assim como o cumprimento cabal da sua natureza profunda, mediúnica e balsâmica, reduzida há milénios a mero instrumento de reprodução e objecto de prazer, relegada para a sombra, como pecadora e causadora do mal inicial da Humanidade!
“Parece que muitos teólogos e filósofos da Idade Média estavam conscientes da necessidade de devolver o princípio feminino maltratado ao paradigma celestial na sociedade. Foram eles que aplicaram o princípio esotérico “assim na terra como no céu”.
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