O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 06, 2005

A DIMENSÃO SAGRADA DA MULHER-DEUSA

Os Mistérios femininos são do corpo e da psique. Uma mulher pode sofrer as experiências físicas desencadeadas pelos mistérios do sangue, mas não percebe de todo a dimensão sagrada da alma que é ser mulher na íntegra.; ou pode experimentar a sagrada dimensão da Deusa como um aspecto de si mesma, ou surgindo através de si, ou ter a criatividade, ou a sabedoria, derivada de encarnar um corpo feminino, mas ser celibatária, nunca ter estado grávida, ou passar por uma menopausa cirúrgica.

Uma mulher não tem que ser mãe biológica para se tornar uma iniciada na faceta maternal da deusa: isso vem-lhe da sua natureza materna encarnada e feminina - por meio da qual sente o seu parentesco com todas as mulheres, os animais e a Natureza. A psique reside-lhe no corpo e a sabedoria brota-lhe de um conhecimento instintual de como utilizar as mãos e o corpo para mitigar e confortar ou se encarregar de uma situação que o exige, no seu íntimo: reage a uma mulher em trabalho de parto, a um animal com a pata metida numa armadilha, a uma mulher num sofrimento histérico, a uma criança aterrorizada e demasiado nova para compreender o que lhe está a acontecer, com uma autoridade maternal que os outros reconhecem instintivamente.

DAR À LUZ A CONSCIÊNCIA DA DEUSA

Tal como uma mulher entrega o seu corpo para ser um receptáculo na gravidez, de certa maneira similar e invisível as mulheres que são médiuns místicas tornam-se o cálice donde pode emergir a consciência. As sibilas, as pitonisas de Delfos e as mulheres americanas nativas que tinham sonhos para a tribo funcionavam assim. Essas mulheres, com poderes psíquicos, normalmente tinham que perder a consciência para que o sonho, ou a informação, surgisse através de si, num paralelismo com as mulheres que são anestesiadas durante o trabalho de parto e o nascimento. Ambas as experiências mudam quando a mulher não fica inconsciente, quando a mulher percebe o maravilhoso que privilégio o que está a fazer. Agora é um vaso escolhido, e foi ela própria que fez escolha do que executa com o corpo e com a psique. Ela bebe nas profundezas arquetípicas, ou biológicas, que misteriosamente se juntam na experiência da alma e apercebe-se de ser esse cálice donde emerge a vida ou a visão. Nesse momento específico, muitas mulheres estão a dar à luz a consciência da deusa.



In TRAVESSIA PARA AVALON - de Jean Shinoda Bolen

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