O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, janeiro 04, 2008

“A mulher não existe”- disse Lacan

“A palavra pertence ao homem e o silêncio à mulher.”

As idéias falocráticas como estas, ideias pervertidas pelo patriarcalismo desde Platão e Aristóteles a Foucault até hoje prevalecem no meio académico e intelectual e as próprias mulheres que estudam nas suas universidades, hoje em dia mais de 60% (em Portugal) aprendem e integram os fundamentos desta filosofia, psicologia e teorias literárias, defendendo os seus princípios e afirmando-se na sociedade patriarcal com esses valores.

De facto a verdadeira mulher não existe!
As mulheres e filhas e mesmo as mães que estes "sábios" conheceram, são as mesmas que ontem e hoje falam pela boca dos homens enquanto que a verdadeira mulher foi e é silenciada. A mulher mesmo que queira expressar-se, fala pelo falo, que também cultua, (sendo ela vazia, só o falo a preenche!) porque a VOZ da verdadeira mulher-útero foi paulatinamente destruída ao longo dos séculos deste Platão o grande e primeiro inimigo da mulher-essência e legítima representante do Oráculo, pois foi ele que descaradamente roubou a voz às pitonisas, para começar a pregar aos rapazinhos o que continuou a acontecer até aos nossos dias “por exemplo com os psicólogos do fim do século XIX e inícios do século XX principalmente Freud e Lacan.

Foi Freud que afirmou”que a natureza foi madrasta para a mulher por ela não ter capacidade de simbolizar como o homem.” Foi Lacan que afirmou “que o simbólico é masculino e que “a mulher não existe” porque não tem acesso à ordem simbólica. A palavra pertence ao homem e o silêncio à mulher. Segundo ele o simbólico é estruturado pela cadeia de significantes cujo grande organizador é o Falo. Este ao mesmo tempo é metáfora do órgão sexual masculino e do poder.”

Elas aprendem pois e estudam com os mestres do falo, logo existo, seguem-nos cegamente, tirando algumas feministas radicais que se lhes opõem, e desde “o formalismo russo, a estilística, o new criticism, o estruturalismo, a semiologia, a crítica neomarxista, a teoria da recepção, a noção de Modernidade e Pós-modernidade, o pós-estruturalismo, a genealogia de Foucault”, nada mudou… e bem a propósito de Foucaut, Rose Marie Muraro refere sobre este iminente filósofo francês que:

“- Ele era pervertido, sexual e intelectualmente, um louco varrido - garante. - Quando esteve no Brasil, em 74, fui assistir a uma palestra dele que falava sobre as raízes da História da loucura. Eu estava ao lado do psicanalista Hélio Pellegrino e comecei a fazer uma pergunta. Foucault se levantou e quase me agrediu. Fiquei morta de vergonha, porque achei que ele tinha alguma coisa contra mim. Fui embora.”

De facto o que nós mulheres ainda contamos da parte dos homens é um ódio secular inconsciente, um medo ancestral desde os primórdios, (embora disfarçado nos dias de hoje por um verniz cultural de "igualdade") e que os torna cegos para o mundo e por isso perseguem esse culto doentio do Falo e por ele violam e matam mulheres e fazem guerras, e que infelizmente se reflectiu de forma dramática no mundo pela dominação e exploração de metade da humanidade mulher. Sobretudo através do fanatismo religioso difundido pelos padres de Roma que tudo fizeram para destruir a mulher e a sua sexualidade como fonte de sabedoria e prazer interior, prazer da alma e do corpo e não apenas de um buraco (pecado) temido e odiado. Os padres da igreja, ao gerarem o medo da mulher, geraram o medo da própria Sombra do homem e da Morte, impedindo assim a completude humana na união sagrada do homem com a mulher que lhe dá vida, lhe mostra a sombra e que por isso o ilumina no amor divino.

Assim, julgando alcançar o Céu pela “castidade” perderam a conexão com a Terra sagrada, destruindo-a da mesma forma que o fizeram com a mulher!
rlp

12 comentários:

Nana Odara disse...

Eu acho que Lacan tem razão... A mulher não existe mesmo... e nem o homem... assim dessa forma antagônica como se um fosse o yin e o outro fosse o yang...
Essa é uma forma errada tbm de expressar... características femininas: sensibilidade noite profundo... características masculinas: força dia superficial...
Homem e mulher é energia... só o corpo nessa vida é de homem ou de mulher... não são forças opostas, isso é só mais uma das mentiras do patriarcado...é diferente... mas não são opostos... nem muito menos homem tem de ser sempre forte
, nem mulher sempre profunda, como nós bem sabemos...
Eis a razão de muitos desencontros intelectuais e não só...

Anónimo disse...

Não, não é uma mentira do patriarcado...a manifestação da energia no corpo mulher e homem são expressão alquímica de polos opostos, mas quando integrados tanto no homem como na mulher através do processo alquímico (iniciação)tornam-se complementares...e aí dá-se o casmento interior de que o casamento exterior é símbolo. A atracção química dá-se à partida por serem polos opostos...que se procuram seintegrar. O mundo é mais do que ideias e conceitos e muito mais do que energia abstracta...de qualquer modo é muito complexo para a mente humana abranger estas noções e só a experiência interior nos faz compreender. De facto as características do princípio feminino são diferentes e também opostas ao princ´pio masculino o que não quer dizer que o homem não tenha intuição e a mulher lógica, só que as características são de mulher terra e homem céu...e aí começou a confusão patriarcal. Veja se não faz a confusão ao contrário....beijinhos rosa leonor

Anónimo disse...

- Enfim, mais uma coisa: você faz o seu trabalho e da sua perspectiva e à sua maneira que aprecio e eu da minha sem conflito porque eu tenho o dobro da sua idade quase....já jui criança já fui jovem e já fui mulher e agora sou velha, sem complexos. Pense nas três deusas, nas três idades, na experência da cada uma...e assim tudo está bem. Nada de polémicas...Na verdade ainda não acertamos alguns pontos quanto a conceitos e semântica...mas não importa. Para mim está tudo bem. De qualquer modo já não sou idealista a nem creio muito na tal lealdade feminina antes de uma consciência superior da humanidade.
Isto pertence às conversas que não tivemos e daí a confusão...beijos rosa leonor

Nana Odara disse...

Se eu todo dia conseguir aprender um pouco mais... e errar um erro diferente... já estou no bom caminho...
Obrigada por tudo sempre...
Beijinhos sempre...

João A Fantini disse...

Rosa
Concordo com a dimensão historica do que vc disse sobre a mulher, porém, na leitura psicanalitica não é bem assim. Não é que a mulher não exista, é que ela não sabe sobre o todo do gozo. Isto não é uma desvantagem, absolutamente, pois deixa a mulher livre para várias formas de gozo. Esta é a inveja dos homens sobre as mulheres, dita por Caetano no disco Cê: só tenho inveja da longevidade e dos orgamos multiplos....
abraço

Hérico disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hérico disse...

Acho que a furia de feministas é condizente com o que Freud falou. Se o falo não fosse tão importante assim, simplesmente não as incomodaria.

Anónimo disse...

Deuses Fálicos da Grécia Antiga como Pan, Príapo, Dionísio e Deusas como Deméter, Perséfone e Afrodite ainda se encontram vivos ou soterrados na psique humana. Apesar dessas forças estarem presentes em ambos os sexos (como estão todos os arquétipos), não há dúvida de que as mulheres tendem a se identificar mais com as Deusas que simbolizam a mãe, a virgem e o amor erótico. (Stein)

"O falo representa e simboliza as misteriosas forças criadoras e fecundantes do universo, e o poder gerador da natureza."

Anónimo disse...

Deuses Fálicos da Grécia Antiga como Pan, Príapo, Dionísio e Deusas como Deméter, Perséfone e Afrodite ainda se encontram vivos ou soterrados na psique humana. Apesar dessas forças estarem presentes em ambos os sexos (como estão todos os arquétipos), não há dúvida de que as mulheres tendem a se identificar mais com as Deusas que simbolizam a mãe, a virgem e o amor erótico. (Stein)

"O falo representa e simboliza as misteriosas forças criadoras e fecundantes do universo, e o poder gerador da natureza."

Anónimo disse...

Deuses Fálicos da Grécia Antiga como Pan, Príapo, Dionísio e Deusas como Deméter, Perséfone e Afrodite ainda se encontram vivos ou soterrados na psique humana. Apesar dessas forças estarem presentes em ambos os sexos (como estão todos os arquétipos), não há dúvida de que as mulheres tendem a se identificar mais com as Deusas que simbolizam a mãe, a virgem e o amor erótico. (Stein)

"O falo representa e simboliza as misteriosas forças criadoras e fecundantes do universo, e o poder gerador da natureza."

Misael Luiz Inácio disse...

Tanto quanto Falo aprendi a ouvir a Voz do Silêncio, mas para isso foi preciso que eu me conscientizasse como Útero. Não sou apenas quina e Ponta, também sei ser cova e Gruta. Nem sempre Pico, mesmo sendo alguém que tem um tridente pontiagudo; às vezes me Cavo em busca de minhas próprias profundezas. (Misael)

Quanto mais masculino um indivíduo, no sentido espiritual, mas a mente se desarticula em compartimentos estanques. (Ortega)

Eros, dentre todas as forças vitais, tem o poder de romper esses compartimentos separados da mente e curar a dicotomia mente/corpo.
Seja como for, Eros, princípio do relacionamento psíquico, é a chave da liberdade espiritual. Eros é o grande desbravador, capaz de penetrar nos compartimentos mais firmemente lacrados.

O princípio feminino (útero) serve fundamentalmente para nutrir, proteger e conter; o masculino (falo) visa o receptáculo fértil do feminino para dar expressão a sua própria singularidade em forma e substância. Como não estamos falando de macho e fêmea, mas de princípios, ambos atuam em cada sexo.
A transformação psicológica depende do entrelaçamento e da circulação da alma; não basta que ela se despeje - ela precisa também reentrar, e para isso o indivíduo deve tornar-se Útero tanto quanto Falo. (Stein)

“Tudo tem um componente masculino e um feminino independente do gênero físico. Nada é 100% masculino ou feminino, mas sim um balanceamento desses gêneros. Existe uma energia receptiva feminina e uma energia projetiva masculina, a que os chineses chamavam de yin e yang. Nenhum dos dois pólos é capaz de criar sem o outro."

Anónimo disse...

Na Deusa me faço a Grande Mãe para gerar o Deus de Chifres,
com o qual me uno incestuosamente a dar luz ao ciclo das estações. (Misael)

A Grande Mãe não é ofendida pelo incesto. Na verdade, ela exige a submissão total de todos os seus filhos fálicos à sua insaciável necessidade de ser fertilizada. O que mais a ofende é a recusa do princípio masculino de entrar em seu eterno ciclo criativo. Não estaria aí uma indicação do modo pelo qual o masculino se submete ao princípio vital feminino num processo de transformação? A sabedoria feminina é uma contínua afirmação da vida... trata-se de uma sabedoria que não se transmite por meios de palavras, mas pela presença e pelo ser. O feminino é vida; mas é o princípio masculino que deve abrir o caminho para novas formas.

O incesto é um símbolo fundamental que encerra o mistério da união de opostos e da transformação espiritual. Na ausência de uma conexão com esta imagem, a consciência torna-se uma arma fálica destrutiva, que continuamente separa o ego da vida. O ego então fica inflado e passa a se identificar com o princípio apolíneo de racionalidade, claridade e moderação, enquanto o inconsciente se sobrecarrega de uma fúria e de um arrebatamento dionisíaco que ameaçam obliterar a consciência do ego.

O desenvolvimento de Eros (o amor) parece depender tanto do tabu do incesto como do desejo do incesto. Devido à existência do tabu, um valor mais elevado do que o concedido à atividade espontânea e inconsciente dos instintos acaba por associar-se à imagem arquetípica da união harmoniosa entre os princípios masculino e feminino.

Édipo foi rejeitado por causa do meu que seus pais tinham de parricídio e incesto.
Quando decidiram eliminar Édipo, ficou claro que o medo do incesto era muito mais forte do que o amor pelo filho. Ou então, encarando a questão sobre outro prisma, pode-se dizer que os naturais e espontâneos sentimentos de amor dos pais foram obstruídos pelo medo do incesto. O "primitivo" organiza sua cultura de forma a assegurar o máximo de amor e o mínimo de incesto. Isso é difícil, pois quanto mais amorosa a relação entre parentes, maior será o desejo de proximidade física e sexual.

Não devemos esquecer que o incesto não é proibido a nenhuma outra criatura ou deus, apenas ao ser humano. É esse o fardo humano; mas através dele pôde o ser humano descobrir o mistério da criatividade e se tornar parceiro da Grande Mãe em seu eterno processo criativo.

Tendo seus caminhos levados a Tebas, Édipo acabou por encontrar a Esfinge. Enquanto Grande Mãe, ela é também a protetora dos mistérios femininos. O fato de Jocasta rejeitar o filho e submeter-se aos argumentos racionais do masculino constituía uma violação da Grande Mãe, ou seja, dos princípios femininos de amor e relacionamento.
O colapso cultural de Tebas, portanto, poderia relacionar-se à negligência e à desvalorização do princípio feminino e dos mistérios femininos.

Com a repressão e a rejeição do feminino, a fundamental necessidade humana de união incestuosa torna-se inconsciente, provocando uma cisão entre mente e corpo, amor e sexo.
Édipo tornou herói através do poder fálico de sua mente racional; mas era o mais insensato dos reis, pois não sabia que o poder fálico deve submeter-se ao poder transformador de Eros.

O incesto implica uma união total dos opostos contidos nos princípios masculino e feminino. Aqui, finalmente, há esperanças de que o arquétipo do incesto, o hierosgamos, seja reativado, e de que este símbolo central de união e totalidade seja trazido de volta à consciência. (Robert Stein)