O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, março 15, 2008

As bruxas dos tempos modernos

Desde a antiguidade, muitas de nós, mulheres, desenvolveram habilidades para extrair da natureza as ervas poderosas para os rituais de cura por meio de chás, benzimentos, emplastres. Essas curandeiras, parteiras, traziam em sua história conhecimentos empíricos que eram transmitidos de geração em geração. Em muitas tribos eram elas as xamãs. Na Idade Média, esse conhecimento era vital para os camponeses que viviam nos feudos, sem acesso a serviços de saúde. Assim, as curandeiras com suas ervas, sua sabedoria ancestral e seus rituais eram a própria luz nesse período de trevas.
Com suas “poções mágicas” andavam de aldeia em aldeia, de casa em casa e em torno delas não era de estranhar que se juntassem outras mulheres...conversas, diálogos, ensinamentos, uma confraria, onde trocavam experiências e o mulherio ia aprendendo mais sobre os seus corpos, sobre suas almas. Um perigo...perigo ainda maior quando ousavam participar das revoltas camponesas. Isso, como bem coloca Rose Marie Muraro, era visto como uma transgressão política, transgressão da sexualidade, transgressão ao sistema, e, portanto, incomodava as autoridades eclesiásticas que passaram a desenvolver um controle – um controle dos corpos, um controle da mente, um controle da alma dessas bruxas que ameaçavam o poder católico e o poder económico. Era necessário expurgá-las, uma vez que carregavam em si o demónio. E o expurgo do feminino ganhou até manual, o Malleus Maleficarum (O Martelo das Bruxas), publicado em 1487 na Alemanha e depois utilizado em toda a Europa. Ele ensinava os juízes a reconhecerem as bruxas, classificava os malefícios causados por essas senhoras e depois instituía as penalidades. Diz o Manual “a primeira e maior característica, aquela que dá todo o poder às feiticeiras, é copular com o demónio...uma vez obtida essa intimidade, as feiticeiras são capazes de desencadear todos os males...”
E foi assim, no fim da Idade Média e no Renascimento, durante quatro séculos, que se desenvolveu uma caça histérica às bruxas. Estima-se que sete milhões de mulheres foram condenadas, mortas, queimadas pela “Santa Inquisição”.
Uma fogueira planejada para controlar corpos e aquelas que não se adequavam ao novo sistema que nascia: o sistema capitalista que precisa de corpos e mentes dóceis, alienados, que não vão se rebelar.“De doadora da vida, símbolo da fertilidade para as colheitas e os animais, agora a situação se inverte: a mulher é a primeira e a mais pecadora, a origem de todas as acções nocivas ao homem, à natureza (...) A sexualidade se normaliza e as mulheres se tornam frígidas, pois orgasmo era coisa do diabo” (MURARO, 2000).
É nesse contexto que se normaliza o comportamento do que é masculino e do que é feminino, na esfera pública e na esfera privada, aprofunda-se ainda mais a divisão sexual do trabalho, forma-se a classe operária e se intensifica a exploração capitalista.

E no século passado, as bruxas retornaram invocando a força das suas antecessoras e assumiram à frente dos movimentos socialistas, dos movimentos culturais e artísticos e organizaram os movimentos feministas. Hoje, não carregam vassouras, mas levantam estandartes, bandeiras. As poções mágicas ganham outros ingredientes: livros, pincéis, teclados, microfones, tintas, ferramentas. Redescobrem os seus corpos, reaprendem o direito ao prazer, ao orgasmo, à fantasia, constroem o conceito de género. Levam para o mundo masculino o valor da solidariedade, da não-competição, da comunhão cósmica com o meio ambiente. Denunciam a violência, dizem não à guerra, às desigualdades, às injustiças e às misérias do capitalismo. Anunciam um outro mundo possível, onde a igualdade, o respeito e a dignidade farão parte do nosso gozo colectivo...que isso seja uma conquista do terceiro milénio.

in MARIA SEM VERGONHA : http://maria-sem-vergonha-docerrado.blogspot.com/

- Gostei muito deste blogue do qual copiei este texto e
QUE ME FOI ENVIADO POR UMA AMIGA BRASILEIRA
Obrigada Yrianna

2 comentários:

Lealdade Feminina disse...

sem tempo pra comentar... depois eu volto... beijos...

Anónimo disse...

Então volte logo...
beijinhos

rosa leonor