O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, março 14, 2008

A dimensão do Sagrado versus Profano…

Muitas vezes quando me expresso acerca da dimensão do Sagrado e do Feminino Sagrado fico a pensar na legítima confusão que surge na comparação do termo com a ideia que temos de sagrado associando-o à religião. E desse modo, sem reflexão, esta expressão é rejeitada ou negada quer por religiosos quer por ateus… Ora o que eu quero justamente salientar aqui é que a dimensão do sagrado para mim e na minha perspectiva está muito mais perto do que as religiões patriarcais consideraram Profano do que do religioso como ritual, dogma e preconceito milenar contra a Natureza, as mulheres e o instintivo…

O Profano afinal não é senão a Porta que antecede o Sagrado, sendo essa Porta a Mulher essencial, a mulher das profundezas, a mulher consciente do seu poder inato, realizada na sua interioridade; não a mulher comum dividida em duas, fragmentada na sua essência, mas a Mulher igual á Deusa, consciente de si mesma como um ser inteiro, unidas as duas mulheres que se digladiavam entre si atemorizadas, em luta pelo filho e pelo pai…

Urge pois Voltar à Dimensão do Sagrado, voltar a enaltecer os valores da Terra Mãe e por isso da Mulher também, a mulher que encarnando na sua totalidade A Natureza, fiel aos seus ciclos e senhora da vida e dando à Luz, também pode por consequência, iluminar o homem.

E foi esse poder de iluminar e essa evidência que o poder patriarcal deitou por terra subjugando e destruindo a mulher e com isso foi destruindo a própria Natureza-Mãe…

A Mulher é assim A Porta do Sagrado e encarna por isso o Profano que é negado pelos patriarcas enquanto iniciadora do fogo instintivo e libertador…Prometeu é um fogo-fátuo, enquanto que a mulher é fogo original…Por essa razão ela foi destronada da sua magnificência de mulher e deusa iniciadora, condenada a subespécie, uma espécie de pecadora inveterada. Foi dividida em dois estereótipos opostos na sua expressão de virgem imaculada e prostituta através do “cristianismo” adulterado pelos padres do deserto.

O facto de os católicos terem destituído de valor transcendente e significado profundo a Mulher e a Terra-Mãe, para enaltecer exclusivamente os valores do Pai e do Céu, os valores ditos “espirituais”, negando assim toda a Natureza, o corpo da mulher e o sexo, destruíram os alicerces da manifestação divina na Terra. Ao negar a mulher considerando-a um ser inferior e baixo e castrando os homens numa suposta ascese, sem considerar a sexualidade como motor de evolução espiritual, anulando o verdadeiro casamento entre o que está em cima e o que está em baixo, respectivamente o homem e a mulher na sua relação alquímica, ambos como representantes dos dois pólos complementares, impediu assim a consumação da Grande Obra do Criador…
Sendo a mulher a representante e mediadora das forças cósmica ou telúricas, ela é essencial, tal como o Princípio Feminino, para o homem realizar a Grande OBRA na união sagrada do pólo masculino céu, que ele representa, ao pólo feminino terra, que a mulher é expressão… profana (portal) sagrada (altar) …

Portanto para mim o Sagrado, independentemente da ideia que se possa ter de Deus/a ou da transcendência, e de uma linguagem considerada mística, não é senão o valor da própria manifestação do poder da Vida na Terra e da existência humana. Porque essa manifestação na sua infinita grandeza não pode ser abarcada pela mente racional por mais instruída que seja e por isso não há nem religião porque dogma, filosofia ou ciência que o revele, se ele não se revelar dentro de cada ser e através da Mulher da qual todos nascemos…

Qualquer ser humano que tenha um mínimo de lucidez e sensibilidade poderá perceberá que a Terra-Mãe-Natureza na sua expressão luxuriante e no expoente do seu esplendor não pode ser senão SAGRADA e como tal vivida. E isso nada tem a ver religião nem rituais…
rlp

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