Simos Miriam, a escritora norte-americana, eco-feminista, anarquista e activista anti-globalização que se destacou no cerco e boicote à Cimeira da OMC em Seattle há 10 anos atrás, conhecida pelo nome de Starhawk.
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O seu último livro, publicado em Junho de 2009, tem sintomaticamente como título The Last Wild Witch, uma vez que a autora é uma das figuras de proa do neo-paganismo contemporâneo que articula espiritualidade, respeito pela terra e um activismo ecológico que passa tanto pelas práticas de permacultura como por acções directas em defesa da natureza-mãe.
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Starhawk é, com efeito, reconhecida internacionalmente como uma activista do movimento pacifista (colabora na coligação norte-americana United for Peace and Justice), dos movimentos de mulheres, de defesa do ambiente (é um dos elementos do colectivo responsável pela Earth Activist Training), e da contestação à globalização económica (é autora do texto «How we shut down the WTO» - «Como bloqueamos a cimeira da OMC», em português - e do livro «Percurso de uma altermundialista», em francês) . Promove e dirige cursos sobre acção directa e a não-violência, e participa em workshops, conferências e leituras públicas, tanto na América do Norte como na Europa e Médio Oriente.
A cientista belga, Isabelle Stengers, que se tem dedicado a desmistificar e dessacralizar a toda-poderosa ciência moderna, tem divulgado a sua obra e pensamento para o mundo francófono, tendo ambas sido co-autoras de um livro comum com o título «Mulheres, Magia e Política» ( Femmes, magie et politique). Por sua vez, Stengers escreveu o livro «A Feitiçaria Capitalista: práticas de desocultamento» (La Sorcellerie Capitaliste: pratiques de desenvoutemente) onde tenta analisar como o capitalismo é um sistema de feitiçaria, e a consequente e imperiosa necessidade de capturarmos e denunciar o seu perigoso feitiço.
Viriato Porto
http://blogosocialportugues.blogspot.com/2009/08/eco-activista-e-feminista-starhawk.html
Nascida em 1951 no Minnesota, Starhawk reside actualmente em San Francisco, onde ajudou a criar nos anos 70 a comunidade Reclaiming (anteriormente denominada Reclaiming Collective), uma comunidade internacional de mulheres e homens que trabalham para unificar o espiritualismo baseado na natureza e o activismo político, no contexto dos movimentos pacifistas e anti-nucleares, dando pois primazia ao activismo económico, ambiental, político e social. A abordagem espiritual da comunidade Reclaiming baseia-se na força e magia da Deusa que é entendida como a força vital imanente à realidade ( daí o seu paganismo), e não como uma divindade transcendental ( como postulam as religiões e as doutrinas teológicas). Se bem que muito variada, e não isenta de debates e polémicas internas e externas, as comunidades Reclaiming tem como denominador comum a adoração e defesa activa da Terra, o que explica o apoio que dá às acções directas que indivíduos e comunidades realizam com aquele propósito.
Segundo se conta, ela estará igualmente envolvida no movimento neopagão Wicca (filosofia, para uns, religião, para outros, que mistura xamanismo, druidismo, mitologias grega, latina e nórdica, e culto da natureza), onde procura recuperar a antiga figura subversiva da feiticeira, associada antigamente à sabedoria; e na criação de Covens ( termo escocês que significa reunião de pessoas, mas que remete para a criação de clãs de feiticeiras/os fora de qualquer hierarquia e sem nenhum rito instituído), tudo isso no contexto da vaga da New Age que marcou a década de 80.
Da reflexão das suas ideias concluímos da necessidade de combater a separação, a separação entre o Homem e a Natureza, a separação entre a energia e matéria, a separação do espírito e do corpo, e ainda o mundo transcendental que nos tem dominado. É ela que escreve:
«A física moderna reconhece hoje que aquilo que os xamãs e as feiticeiras sempre souberam: que a energia e a matéria não são forças separadas, mas formas diferentes da mesma coisa.».
Daí decorre que a feiticeira neo-pagã trabalhe para dar a cada um a consciência do seu próprio poder, e ao mesmo tempo reforçar os laços com os outros e com o mundo. Ao «poder-sobre», ao poder da autoridade, imposto do alto, ela opõe o «poder-de-dentro». Assim se explica os rituais em contexto situacional, nas barricadas, em plenos tumultos de rua, e nos solstícios. Propostas como estas, e outras similares, são motivo de grande discussão entre os activistas mais ortodoxos que desconfiam do fundamento e efeitos destas crenças e do ritualismo que lhe está associado.
Como quer que seja, certo é que os seus livros são textos estimulantes contra a Razão triunfante dos nossos dias, essa Loucura que nos submerge sob a aparência do racionalismo cientificista tentacular e totalitário. E as técnicas preconizadas por Starhawk – o empowerment ( a capacitação das pessoas e dos grupos sociais) e o Reclaim the Commons – mostram bem que o seu activismo eco-feminista e espiritual não deixa para amanhã – nem para os outros – a inadiável mudança social. Porque um outro mundo, não só é possível, como é, face à injustiça e à guerra, urgente e necessário. Aqui e agora.
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• Spiral Dance (1979, 1989, 1999)
• Dreaming the Dark :Magic, Sex and Politics (1982, 1988, 1997), traduzido em françês com o título Femmes, Magie et Politique (2003) e pósfacio de Isabelle Stengers
• 1989 - Truth or Dare: Encounters with Power, Authority, and Mystery (1988)
• 1994 - The Fifth Sacred Thing (Bantam), ficção
• 1998 - Walking to Mercury (Bantam) , ficção
• 2002 - Webs of Power: Notes from the Global Uprising (New Society Publishers)
• 2005 - The Earth Path: Grounding Your Spirit in the Rhythms of Nature (HarperOne)
Consultar:
http://www.starhawk.org/
Femmes, magie et politique, de Starhawk (comentário e recensão crítica):
http://www.peripheries.net/article215.html
In http://www.gaia.org.pt/node/15014
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NOTA À MARGEM:
Se alguém souber de um destes livros editado em português no Brasil agradecia que me informasse.
rlp
1 comentário:
LINDO! Eu sinto vontade de me conectar com animais selvagens...
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