O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, junho 29, 2015

JÁ NÃO HÁ DOM JUANS...





"Centrando-se numa das figuras românticas mais famosas da literatura e da ópera, o impetuoso sedutor Don Juan, a análise sociopsicológica de Winter baseia-se largamente no estudo da frequência de certos temas em documentos literários. Winter observa que, apesar da obrigatória condenação das acções de Don Juan como “perversas” e “malditas”, ele é de facto idealizado como “o maior sedutor de Espanha”. Assinala também que os motivos subjacentes de Don Juan são a agressão, o ódio e o desejo de humilhar e punir as mulheres – não os impulsos sexuais. Nota ainda algo de profunda importância psicológica e histórica: as atitudes extremamente hostis para com as mulheres são características de épocas em que as mulheres sofrem a máxima repressão por parte dos homens. O caso clássico relevante que cita é o da Espanha onde emergiu a lenda de Don Juan, quando os espanhóis das classes superiores haviam adoptado o “costume mourisco de manter as mulheres em isolamento”. A razão psicológica por detrás desta hostilidade acrescida, explica Winter, é o relacionamento mãe-filho tornar-se particularmente tenso em períodos assim – a par da generalidade das relações feminino-masculino.

Contextualmente, torna-se evidente que a “motivação de poder” de Winter é, na nossa terminologia, a pulsão androcrática para conquistar e dominar outros seres humanos. Tendo estabelecido ser o rebaixamento das mulheres por parte de Don Juan uma manifestação desta “motivação de poder”, Winter tabula então a frequência das histórias sobre Don Juan na literatura de uma nação relativamente aos períodos de expansão imperial e de guerra. O que documentam as suas descobertas é aquilo que nós prediríamos socorrendo-nos do modelo de alternância gilânico-androcrático: historicamente, as histórias do mais famoso arquétipo de dominação masculina sobre as mulheres aumentam de frequência antes e durante os períodos de militarismo e imperialismo exacerbados.”

in, O Cálice e a Espada
Riane Eisler
Nota breve:

Já não há hoje em dia Dom Juans...a grande maioria deles se transformou mais ou menos em gays...ou gigolos...ou ainda chulos; os homens que antes se queriam vingar das mulheres seduzindo-as  hoje preferem seduzir os homens e casar entre si...uma vez que o romantismo acabou e a fidelidade no casamento já não é também o que era...portanto não há  já qualquer interesse em seduzir uma mulher...ou dominar uma mulher, pois as mulheres estão quase todas convertidas ao machismo...e não oferecem a menor resistência aos avanços do macho...que afinal nem o era assim tanto...
Poderíamos se calhar dizer, sem o rigor do pesquisador acima, mas com uma mera intuição da bruxa que habita cada mulher ...que deixou de haver culturalmente esse tipo de homens atraídos por mulheres casadas e o agressor - predador passou a ser bem mais contundente nas sociedades modernas não como o amante em muitos casos e sedutor barato, mas como o marido através da violência doméstica...

rlp

3 comentários:

Anónimo disse...

O mundo antigo, assim como o mundo atual, era e sempre foi, homossexual. Os homens faziam sexo entre si e apenas se casavam com mulheres pela procriação. Pouquíssimas sociedades não eram homossexuais na antiguidade, talvez a egípcia, fugisse a esse padrão. Os patriarcas que deram origem ao monoteísmo, foram os mesmos que estabeleceram regras para coibir o sexo homossexual e mesmo assim, porque tal prática estava ameaçando suas políticas de expansão territoriais e populacionais. Fico imaginando, em como os homens estavam tão interessados uns nos outros a ponto de fazer com que os líderes patriarcais, tivessem que colocar na Bíblia uma regra expressa proibindo o sexo não reprodutivo.
A sociedade greco-romana que deu origem á civilização ocidental, era homossexual. Nessas sociedades o cidadão (mulheres não eram cidadãs), o cidadão era definido como o homem adulto das classes dominantes, e o sinal de sua maturidade era a barba. Assim o cidadão greco-romano costumava casar-se com uma mulher e manter casos amorosos com meninos e adolescentes e estes ao criarem barbas eram elevados à condição de homens e agora podiam casar-se e manter seus amantes meninos. Veja, fomos formados por uma cultura homossexual e pedófila.
A partir da invasão cristã, a religião adotada proibiu relações homossexuais. Isso criou uma misoginia latente nos homens, que proibidos de realizar suas inclinações, passaram a 'ter que' se relacionar apenas com mulheres, sob pena de perder seu status de homem, o que antes não acontecia.
Homens no patriarcado, consideram as mulheres como seres inferiores a eles e por isso, amar uma mulher, seria se igualar ao ser inferior, seria um rebaixamento na sua masculinidade, por isso nas culturas antigas e ainda hoje, homens seguem sendo homossexuais.
Sob a bandeira da modernidade estamos reconstruindo as bases de uma sociedade homossexual. Com o liberalismo, as campanhas por direitos e etc, mais e mais homens se sentem seguros para expressar sua verdadeira atração e cada vez mais homens o farão. E aqueles que não conseguem, ficam idolatrando o sexo anal, escondendo pela prática com a mulher, aquilo que gostariam de fazer com um homem. Nada disso tem a ver com as mulheres. Nós somos apenas coadjuvantes nesse processo, sempre fomos. Não é por causa do feminismo ou de qualquer outra coisa que as mulheres fizeram ou deixaram de fazer, que estamos caminhando, de novo, para uma sociedade no modelo greco-romano. Essa questão sempre foi uma questão entre eles. Foi a sociedade patriarcal que eles criaram que deu origem a essa misoginia. Filósofos gregos afirmavam que o amor superior, era o amor de um homem por outro homem.
A triste realidade é que com a sociedade se tornando cada vez mais homossexual, as mulheres correm o risco de regredir nas poucas coisas que conquistaram. Se o processo se concretizar, o que impedirá os homens que dominam a política, a economia, as mídias, as artes, o exército e a polícia, de recolocar a mulher na mesma condição da mulher grega?
Vejo o mundo dividido: naqueles países onde os governos são patriarcais e religiosos, a prática será heterossexual. Nos países patriarcais de estado laico, a prática será homo e as mulheres em ambas as sociedades, mero objeto de reprodução. Como sempre foi no patriarcado em geral.

rosaleonor disse...

Gostaria muito de publicar este seu texto, se me permite...e não sei se quer ficar anónima - presumo que seja mulher - gostei da sua visão e análise.

Agradeço muito a sua contribuição

um abraço

rleonor

Anónimo disse...

Pode publicar, sou mulher sim e prefiro continuar anonima. Obrigada.