REFLEXÕES AMARGAS...
Não sei bem onde ou como escrever isto...mas talvez eu possa confessar a minha perplexidade diante da fantasia persistente das mulheres...em se deixarem iludir pelo mito romântico do amor...seja com o Príncipe encantado seja com As 50 sombras de gray...e como as coisas alusivas a esses mitos, o do passado e o moderno, o sonho de serem amadas e compreendidas por um homem sensível e doce (como li hoje), mesmo que sejam maltratadas...as motiva e aprisiona no sonho. Mesmo algumas mulheres que se creem mais conscientes, com algum trabalho feito a nível psicológico, caiem na esparrela - eu vejo isso - e vejo como fogem para o sonho e como essa ilusão as toma e prende por completo. Vejo a forma como se deixam enganar pelo lado cor-de-rosa da vida, a todos os níveis e preferem a teoria e as promessas a uma realidade dolorosa e assim continuam a projectar os sonhos e as ilusões ainda, seja no campo meramente romântico seja o das canalizações, com anjos e arcanjos e os mundos paralelos que as salvam deste mundo e propagam as suas fantasias e mentiras...as pequenas e grandes mentiras com que mascaram as suas escolhas cobardes de não serem MULHERES em si e saberem se bastar...
E vejo como se projectam nesse homem ideal ou se agarram a esse pseudo mundo dito espiritual, de guias e facilitadores...que as exploram e manipulam e como preferem seguir vias utópicas e religiosas e os mestres, a serem elas mesmas e autênticas e sinceras... porque isso dá muito trabalho e é preciso ir ao fundo da Sombra e das suas misérias e contradições; preferem iludir-se e negar-se a si mesmas como mulheres, porque não querem ver o outro lado de si mesmas e pois para isso é precisa muita coragem, muita honestidade. E elas preferem continuar a ser as crianças e as filhas do papá...
Assim, É quase impossível lutar contra o mito do Deus, do Pai e do Homem salvador...
Claro, eu é que sou velha e céptica, bruxa e má...porque já não me acalentam sonhos mas, penso... talvez não tenha o direito de destruir os sonhos das outras mulheres ...e é isso que hoje acabo por me perguntar: Para quê consciencializar, alertar ou dizer as coisas que não querem ver nem ouvir?
Para quê fazer este papel tão ingrato ...não será que tudo isso faz parte da vida...sonhar e ter ilusões, amar e odiar e ter ciúmes e cair e levantar e perdoar etc?
Cair nas armadilhas da vida, viver os altos e baixos e aprender por conta própria?
Sim, é verdade, mas eu vejo também que o ciclo é vicioso e a mulher repete esse erro a vida inteira sem saída...mas qual é de facto a saída para a mulher que foi educada e formatada para ser preenchida pelo homem e pelos filhos? Que só conhece uma forma de ser que é ser em função dos outros? Que solução há para a Mulher que quer ser ela mesma e encontrar-se se ela não consegue despegar-se do sonho e da ilusão que a mantem viva?
É isto um paradoxo ou o contrassenso? Ser livre e não ter amor...ou ter amor e não ser livre...será que o amor não é compatível com a nossa liberdade? Saberemos nós amar? E o que é o amor? Como amamos nós...
E ser só? É difícil ser-se só e não ter filhos nem netos - mas afinal qual é o propósito da vida em si...? Da mulher é só ter marido e ter filhos e netos...? ou enfim ter uma profissão e um estatuto qualquer...Mas ser só um individuo, ou ser inteira e ser ELA MESMA não sabe o que isso é...
Será que a Mulher não se basta, que a Mulher não sabe ser em si completa e como uma deficiente busca a "bengala", o suporte para andar num mundo que a não aceita senão assim, carente, doente, metade de si ou como que deficiente e chama a isso "amor", sem nenhum amor por si mesma?
Como vêm não é fácil sair deste labirinto...
Hoje acordei assim...muito céptica mesmo...
rlp
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