O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

OS ARQUÉTIPOS...

 
A mãe terrível e o feminino negativo

" Existem dois polos de expressão do arquétipo da mãe: a grande mãe, que encarna o alimento, o apoio e a protecção sem limites, e a mãe terrível, que representa a asfixia, a estagnação e a morte. Estes modelos arquetípicos são elementos da psique humana, que se formam como resposta da típica dependência dos humanos durante a sua infância. Na maioria dos casos, a mãe é o primeiro objeto de dependência de uma criança, e sua tarefa consiste em afastar-se desta fusão simbiótica, para a separação, a individualização e autonomia. Se a mãe é percebida pela criança como uma fonte de nutrição e ajuda, este a experimentará como uma força positiva; pelo contrário, se visto como negligente ou sufocante, a experimentará como destrutiva.
Muitos adultos respondem ao poder feminino e, com frequência, às suas próprias mães em relação ao polo arquetípico da mãe terrível. Não podem ver a vida de suas mães no contexto do período histórico em que viveram, de seu passado familiar e das poucas oportunidades disponíveis para as mulheres naquela época; e assim, mais as suas falhas como parte da mãe negativa interna ...

Uma jovem procura em sua mãe as chaves do que significa ser mulher, e se esta não pode dar, a filha se sente humilhada por ser mulher. Em seu desejo de não ser como sua mãe, talvez se esforce por conseguir poder em detrimento de outras necessidades. Muitas filhas sentem raiva contra suas mães por ter aceite com facilidade e de maneira passiva "as coisas como são". Até que fazem consciente esta reação inconsciente, continuam a funcionar em reacção às suas mães.
A filha afasta-se rapidamente da mãe devoradora que tenta encerrar por ciúmes e inveja de seus talentos e liberdade potencial. Distancia-se da mãe que não a apoia, é rígida e continuamente está a emitir juízos. Foge ao arquétipo da mãe-Mártir que sacrificou sua própria vida ao serviço de seu marido e de seus filhos. Pode ser que a amargura da mãe, causada por seus próprios sonhos quebrados exploda em cóleras  súbitas  ou se manifeste em um comportamento passivo-agressivo contra a filha que teve mais oportunidades...

A maioria das mulheres não podem esperar para se distanciar da mãe ameaçadora e negativa. Todos temos ouvidos que dizem: "não quero ser como a minha mãe, nem quero parecer com ela". Algumas mulheres não temem só ser comos suas mães; na verdade temem se tornar elas. Esta matrofobia está tão enraizada na nossa cultura que, com frequência, as mães se sentem abandonadas e rejeitadas quando os filhos abandonam o lar "*

*Maureen Murdock - Ser mulher. Uma viagem heroica 

QUEM É A MÁ MÃE...

Este pequeno excerto exprime a visão Junguiana da Mulher quando fala da Mãe terrível, dividindo a mãe em boa mãe e má mãe, partindo de uma visão simplista da mulher que ignora e esconde esse aspecto sonegado e não integrado da sua natureza instintiva, ctónica  e telúrica que corresponde ao seu lado sensual sexual e mediúnico, não integrado no modelo patriarcal da mulher mãe  que não vê nem fala da divisão da mulher em si, da mulher reprimida na sua expressão telúrica,  ligada aos seus ciclos e á Lua, que a torna frustrada e ressentida e portanto facilmente ligada à ideia da má mãe...
Que mãe pode ser uma mulher tolhida e condicionada a ser apenas uma parte de si, a parte que o patriarcalismo escolheu para o servir anulando-a na sua essência?
Neste sentido a leitura junguiana da mulher é parcial e redutora - não dando qualquer solução a mulher em si mesma - a de ontem e a de hoje - e deixando isso por conta dos arquétipos, condenando-a assim á cisão interior da sua psique em que está dividida há séculos de catolicismo que divide a mulher em santa e a puta. Não entendo como os psicólogos não se aperceberam dessa cisão nem falaram da forma como essa divisão da psique feminina fez mal à mulher colocando todas as mulheres debaixo dessa condenação social e à permanente suspeita da sua integridade  dependente do seu comportamento, sendo que se aceita as mulheres se forem sérias e as outras que fogem as regras e aos padrões são as más...
Jung e os seus seguidores e muitas mulheres dentro do sagrado feminina partem desta mesma visão e ficam condicionadas à divisão ancestral da mulher nos tempos pré-históricos e não tem  uma compreensão da cisão  que a mulher sofreu ao ser dividida em duas espécies não apenas de mãe terrível e boa mãe, mas de mulher boa - santa e fiel esposa, contra a ideia da mulher má, sensual, que fascina e seduz e que é vista como a puta -
 Por isso eu não concordo com esta visão psicológica nem com a leitura do mito...
A Mãe terrível é a mulher instintiva não realizada, é a mulher incompleta que o catolicismo dividiu e assim continua nos nossos tempos, continuando a ser  a mulher sofrida e condenada pela religião a viver apenas uma parte de si mesma e sendo castigada ou castigando-se a si própria se sair das regras ou normas do sistema.  Neste sentido a psicologia não evoluiu nada...
rlp
 

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