O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, agosto 02, 2016

ELA ERA A OUTRA



UM BELO TRECHO QUE RESSALTA
COMO A MULHER SENTE "A OUTRA"

"Desvios, subterfúgios, como sempre que o seu nome surge: Polixena. Ela era a outra. Era o que eu não podia ser. Tinha tudo o que a mim faltava. É certo que as pessoas diziam que eu era "bonita", eu sei, mesmo a "mais bela", mas f...icavam sérias quando o diziam. Quando ela passava toda a gente sorria, o primeiro sacerdote e o último escravo e a mais ignorante das moças da cozinha. Procuro uma palavra para a sua maneira de se apresentar, não consigo resistir, ultrapassa-me a minha convicção de que uma expressão feliz, palavras, portanto, consolidam todos os fenómenos, todos os acontecimentos, e por vezes podem mesmo solicitá-los. Mas no seu caso não resulta. Ela era composta de diferentes elementos, encanto, doçura e firmeza, mesmo dureza, na sua natureza existia uma contradição que tinha um efeito excitante, mas também tocante, que se desejava tocar, proteger ou arrancar dela, nem que para isso ela própria tivesse que ser destruída.(...)"


em Cassandra, de Christa Wolf

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