PORQUE FAÇO A APOLOGIA DA BRUXA, e a defesa da palavra...
AS Bruxas...ou o termo Bruxa, parece um termo démodé, a evocar Idade Media...
Sim, talvez fora de contextos e desta realidade ideal e virtual, new age, de novos santos e santinhas e iluminados, e a sua Sombra ainda irrita e incomoda muita gente dita culta ou inteligente, homens e mulheres, e os faz reagir por medo ou superstição...
Eu utilizo e defendo a palavra Bruxa, MEIGA (em espanhol - galego) para megera ou velha sábia, para a mulher que vulgarmente não corresponde aos padrões da mulher que se integra na sociedade e que fica de lado a contestar as normas e as leis e velha a rezingar. Para mim a Bruxa é uma "figura de estilo" da Mulher que a sociedade rejeita e não cabe nos seus padrões, que não é submissa ou cordata e que incomoda pela sua postura critica ou livre e que não segue as regras do deus Pai - embora nos dias de hoje, para tratar mal as mulheres os homens fazem-no com um termo mais "assertivo" que é o de puta, galdéria, cabra ou vaca, porque tudo se pauta pela sexualidade mais primária...
As mulheres foram todas educadas e formatadas para obedecer e servir a sociedade, a deus, ao homem e ao filho...E quando uma mulher se recusa, ela é tudo o que lhe queriam chamar...
Para mim a Bruxa equivale à Megera...à Medusa, à velha que sabe, que já não se ilude...e é claro os meninos/as têm medo da bruxa... porque a história da bruxa que os desviava dos bons caminhos e os levava ...lá para a casinha eh eh he hiiih...estão a ver o filme???
Ela enganava os meninos e meninas boazinhas e levava-@s para um sitio parecido com uma gaiola e todos os dias ia lá e dava-lhes chocolates para quando estivessem gordinhos e anafados os comer...
Eu lembro-me da história da bruxa que a minha avó contava...para que eu e os meus irmãos nos portássemos bem...
Enfim no meu caso, eu uso a minha Sósia para exprimir as coisas que não se dizem...é uma boa capa...mas faço-o na escrita e para me libertar do "politicamente correcto" e das ideias feitas e dos preconceitos que nos limitam ...A minha bruxa diz coisas que eu não digo...apanha-me até desprevenida, solta-se e quando o faz eu não a calo. Além de que gosto de brincar, tenho sentido lúdico, vejo o dúbio e o imensamente variado das coisas realistas...das cosias sérias... que acabam como as falsas...todas num charco de mentiras...as politicas e os impérios e as guerras...
É bom não ter amarras no mundo da ilusão, no mundo ideal e das ideias e idealizações - não acredito em projectos, em ideologias ou filosofias salvíficas, não devo nada a ninguém nem sequer satisfações; tudo o que se pensa e se diz...e se faz é parte de uma grande Teatro que dizem ser a vida, e é na verdade uma brincadeira trágica e divina, muito séria. A divina Comédia...
Sim porque a verdadeira vida é feita apenas de momentos, um ser outra coisa que não consta nos livros, uma oferenda, um estado de alma ou um estado de graça. E tudo o mais se dilui no acaso, tudo o tudo parece inventado...contado a maneira das histórias da bruxa...que come meninos...os maus e os bons...os heróis e os grandes e os miseráveis...
Se alguém tem medo da bruxa - e há por ai muitas fadas com medo das sombras - abra o espírito, o coração e a alma e seja flexível consigo mesma. Olhe a sua Sombra e veja o que nela esconde, e verá que ela faz parte de si também; mais tarde ou mais cedo ela APARECE, nem que seja bem mais tarde quando for velha como eu...
Depois temos mais deusas em furia para além das Górgonas e das Fúrias...
E há Kali na India e tem imensos braços e facas e espadas para cortar cabeças… e há Shekmit no Egipto para dizimar a terra e os usurpadores...
Enfim, eu gosto da minha bruxa e assumo-a com grande prazer e orgulho... ela representa-me sempre que o que eu penso e sinto é muito mais vasto, contraditório e paradoxal do que se possa imaginar o mundo e a vida.
Quanto aos santos e iluminados e fadas de serviço digo que no meu caso não preciso do seu deus para nada…eu sou antiquíssima e deusa e sacerdotisa e velha eu sou Lilith e não há nem deus nem diabo acima de mim…
...
rlp
in mulheres e deusas 2008
* Margaret Atwood
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