Mona Chollet: "O modelo atual de amor hétero só funciona quando as mulheres fecham a boca"
Artigo reservado para assinantes. Após o sucesso de seu ensaio feminista "Bruxas", a jornalista continua sua introspecção, desta vez sobre relacionamentos heterossexuais, em "Reinventando o Amor". Evocando modelos educacionais de gênero, flerte ou violência doméstica, ela pede uma mudança na relação de dominação dentro do casal.
Mona Chollet, Paris, 24 de agosto. (Rachael Woodson/Libertação)por Cécile Daumas e Johanna Luyssen
publicado em 9 de setembro de 2021 às 20:35
Pode-se ser feminista e amar a masculinidade selvagem de Harrison Ford em Indiana Jones? Eles foram moldados por comédias românticas e analisam hoje o "peso do patriarcado nas relações heterossexuais"? Ser um grande amante na tradição romântica e absolutista do romance sentimental (Bovary, Belle du Seigneur...) e nos perguntar por que nossos modelos amorosos ainda dependem da inferioridade das mulheres? Em seus livros, a jornalista e ensaísta Mona Chollet sempre começa de sua própria, com suas próprias perguntas e sua consciência a baixas temperaturas das desigualdades de gênero. Esse método de dúvida permanente explica, em parte, o considerável sucesso da Sorcières,seu ensaio feminista lançado na esteira de #MeToo, em 2018. Vendido mais de 250.000 exemplares até hoje, este livro geracional tornou-se o vade-mecum da mobilização #Metoo, a entrada no feminismo para muitas meninas e meninos. Neste livro, ela analisou, à luz mítica das bruxas, o "poder invicto das mulheres", em particular através das figuras de mulheres sem filhos ou idosos.
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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