O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, novembro 14, 2022

A transformação acontece através da metáfora.




Sem a metáfora, a mente pode ser alimentada, mas a imaginação e o coração passam fome.
Sem o reflexo na alma, a mesa do banquete nos sonhos pode estar carregada, mas a comida não é assimilada e assim a alma morre de fome. Não há nada mais triste em análise do que ver sonhos ricos em imagens curadoras, mas o sonhador é incapaz de comer ou seja, a consciência ou é incapaz ou se recusa a tirar um tempo para morder, mastigar, engolir, digerir, e integrar o que é representa pelas imagens.
Enquanto o significado de um sonho não for trazido à consciência, as metáforas que estamos a sonhar são promulgadas nos nossos corpos ou nas nossas relações. Se, por outro lado, trabalharmos arduamente nas associações às imagens de sonho e permitirmos que os sentimentos, a imaginação e a mente se movam dentro e através do símbolo, inevitavelmente somos silenciados pela corretidão da metáfora. 

Existe um momento de SIM! ou AH NÃO! quando a verdade ressoa através do corpo, da alma e da mente, às vezes uma verdade dolorosa, mas, no entanto, uma verdade que conduz à liberdade. A honestidade crua de uma imagem do inconsciente pode nos deixar mudos de lágrimas ou risos, muitas vezes com ambos, porque a imagem se move naquela borda fina do absurdo entre tragédia e comédia. Se o ego consegue assimilar o ponto de vista apresentado pelo inconsciente e ver-se objetivamente, então pode encontrar um novo ponto de vista. Pode observar-se a si próprio sofrendo, mas ao mesmo tempo experimentar o sofrimento como dores de parto. O ego que se relaciona com a alma (pensamento cérebro certo, se quiser) está motivado a refletir as imagens dos sonhos na pintura, dança, canto, escultura, escrita, permitindo assim que o processo de cura transforme o que de outra forma seriam imagens mortas Oh energia vital.
A transformação acontece através da metáfora. Sem metáforas, a energia está travada em padrões repetitivos, a Medusa aprisiona a energia em pedra. Na matriz criativa, o símbolo flui entre espírito e matéria, curando a divisão.
Nas crianças, a divisão ainda não aconteceu, sendo assim para elas o mundo ainda é mágico. Suas imaginações iluminam seus corpos. Eles jogam. Com concentração total, eles jogam. A sabedoria estranha escapa das suas bocas, mas não está consciente. No processo de crescimento na nossa cultura, o pensamento racional substitui a percepção imaginativa a tal ponto que a imaginação é sufocada. Sem isso, espontaneidade e criatividade petrificam. Quando a essência eterna não é mais percebida na vida diária, a vida se torna uma passadeira repetitiva. O recipiente feminino, o receptor, está tão desligado que nada de novo regista. Os contrários (espírito/matéria, masculino/feminino) deixam de ser vistos como paradoxo vivo? sem a sua tensão, humor, sagacidade, brincalhão, o sal que dá à vida o seu sabor não está lá. O riso explode quando duas realidades diferentes colidem, e se quisermos viver a divina comédia, temos que estar segurando a tensão do paradoxo entre esses dois mundos.


- Marion Woodman.

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