“Arruinaram-me a vida. É horrível”: Susana é a primeira trans espanhola arrependida e reclama ter sido operada sem supervisão psiquiátrica
Por Pedro Zagacho Gonçalves em 13:29, 24 Fev 2023
Susana Domínguez é espanhola e tem 24 anos. Até há pouco tempo era Sebastião, depois de ter começado o processo de mudança de sexo com apenas 15 anos, mas arrependeu-se do processo que, agora, tem consequências irreversíveis. A jovem reclama mau acompanhamento psicológico e psiquiátrico e diz que os médicos e os hospitais públicos que a operara lhe “arruinaram a vida”.
Foi em 2020 que voltou a ver o psicólogo que deu a aprovação para que fosse sujeita à mudança de sexo, e cujo diagnóstico mais tarde permitiu que lhe fosse retirado o útero. Quis explicar-lhe que achava que se tinham enganado ambos. Não era um rapaz no corpo de uma rapariga, como o psicólogo lhe havia dito. Os transtornos que tinha afinal não tinham que ver com a transexualidade, tratavam-se de problemas de depressão e transtorno esquizofrénico, que a impediram de tomar a decisão correta, e que também não foram detetados pelo profissional de saúde mental que a acompanhava.
Desde que o tinha consultado pela primeira vez, passaram seis anos. Susana viu retirarem-lhe os seios e o útero, e foi sujeita a vários tratamentos com hormonas masculinas. Já era tarde de mais, pois o corpo tinha sido modificado de forma irreversível.
Pior, destaca a jovem, durante todo o processo nunca recebeu qualquer tipo de acompanhamento psicológico. O resultado foram tentativas de suicídio, que vieram deixar a descoberto sinais de transtornos de espectro do autismo, que o primeiro psicólogo consultado por Susana também nunca detetou
Segundo relata ao El Mundo, o psicólogo não fez caso dos antecedentes de doença do foro mental existente no histórico familiar, e confiou no autodiagnóstico de Susana, que dizia estar convencida de que os seus problemas seriam resolvidos através de uma mudança de sexo, por ter visto vídeos nas redes sociais sobre casos de transexuais que estavam felizes após a operação.
“Agora como é que se resolve isto?”, questiona a mãe de Susana, desesperada. A filha não tem aparelho reprodutor masculino ou feminino. Agora terá de mudar para hormonas femininas para tentar voltar ao ‘original’ o tanto quanto possível. Mas os danos são praticamente irreversíveis.
Agora, Susana e a família fizeram uma queixa forma contra o Serviço Galego de Saúde, denunciando o diagnóstico errado feito pelo psicólogo de disforia de género. Este é o primeiro caso de uma pessoa trans que se arrepende do processo, mas outros casos têm surgido nos último anos no mundo.
No Reino Unido, por exemplo, em 2020 Keira Bell foi indemnizada após um tribunal concordar que não tinha maturidade suficiente quando, aos 15 anos, decidiu mudar de sexo.
O caso de Susana foi fruto da lei galega de não-discriminação por razão de sexo, de 2014, na altura em que Alberto Núñez Feijóo presidia à região. O diploma não prevê que estes casos tenham que ter obrigatoriamente acompanhamento psicológico durante todo o processo de mudança de sexo, e permite aos pacientes decidirem sozinhos se querem mudar de sexo.
A recentemente aprovada ‘Lei Trans’ estende o mesmo modelo a toda a Espanha e proíbe expressamente, contra a opinião da maioria das sociedades científicas espanholas, que qualquer profissional da saúde mental trate quem se autodetermine com um sexo diferente do seu. O acompanhamento psicológico só acontece nos casos em que o paciente assim o exija, e nos casos de problemas nas cirurgias e tratamentos de hormonas.
“Se o psicólogo não sabia ajudar-me, podia ter-me enviado a outro, em vez de arruinar-me a vida. A minha vida agora é horrível. Os psicólogos e psiquiatras não me têm ajudado e continuo a ter os mesmos problemas. A psiquiatra agora diz que não tenho nenhuma doença mental, que o que tenho não se cura com comprimidos, mas continua a receitar-me medicamentos e a fazer relatórios de ‘corta e cola’”, lamenta Susana, exigindo que seja indemnizada pelo diagnóstico errado que a prendeu num corpo que, afinal, não era mesmo o seu.
3 comentários:
Estou sem palavras com este testemunho. Nenhum psiquiatria ou psicólogo sabe orientar coisa alguma. Não viveram na pele estudaram nos livros e limitam me a prescrever na maioria químicos q só nos bloqueiam entorpecem o pensar o sentir... ( Neste momento tomo apenas um anti depressivo líquido para stress pós traumático por meu pedido ao médico, trouxe me um certo equilíbrio)
Nessas alturas somos zombies e não temos noção lemos e fazemos, vemos na NET imitamos e por aí a fora. Lamento muito esta situação e começo a clarear a minha opinião. Já não é a mesma Rosa.. eu não tinha noção de uma situação assim. Lamento imenso. É de facto assustador mas igualmente importante ter conhecimento desta situação. Eu sempre achava que cada qual fazia o q queria do seu corpo. No entanto havia em mim uma dúvida uma questão que não cheguei a falar. Antes de atingir pelo menos a maior idade como é possível q país educadores e médicos permitam q cérebros ainda em construção sem experiência da vida tomem essa decisão e sejam apoiados por adultos supostamente responsáveis?!?!! Esta pessoa vai sofrer diariamente até ao fim. Disso eu sei.
Horrível
Monstruoso.
Obrigada Rosa.. sempre lúcida e atenta... Que bom estares aí a escrever para nós. Ainda achas pouco? Bem hajas minha querida
Vanea, recebi a tua ultima mensagem e só te quero dizer que não tem importancia com quem dormiste ou não ou o que fizeste e como sentias...tudo faz parte da vida e não moral senão aquilo que te faz sentir bem e tenho a certeza que isso é hoje o mais importante para ti. Mas não te culpes nem julgues mal ou bem. Somos o que somos fruto de todas as situações que nos envolveram ou condicionaram. Agora podes escolher ser cada dia mais consciente e distinguir o que te faz mal ou bem... as vezes queremos provar aos outras que somos isto ou aquilo e de nada serve... Amadurecemos quando começamos a pensar por nós mesmas e a ver o que não nos serve mais. Quanto ao amor, é uma lição dificil porque teimamos em que os outros nos deem aquilo que eles não tem, sejam homens sejam mulheres é a mesma coisa. Sim, as mulheres podiam ser diferentes, mas estão perdidas e contaminadas pelo patriarcado e tão machas como os homens mesmo as casadas e as feministas etc.
Lê o que diz a Clarice:
"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer. "
Clarice Lispector
Boa noite querida Rosa. Hoje foi mais um dia daqueles mas eu fiz o barulho necessário e bem feito mas já tinha dois agentes de outra corporação a ver o que me estavam a fazer. Foi fácil igualmente difícil. Amanhã mesmo vou recuperar o que me levaram. ......
Eu sinceramente já não me importo com o opiniões alheias. É um tanto faz sem qualquer esforço porque fiquei francamente afectada com o acontecimento de 3 anos atrás.
Porém saber que tu sabes que amadureci que digo não ao q ultrapassa os limites q hoje amadureci e já não vejo nada igual eu sinceramente fico muito feliz porque a tua palavra opinião importa. A tua. Fico feliz por saberes que me tornei uma pessoa melhor e mais séria. No entanto foi a coisa mais linda bonita e natural que aconteceu por ali.,.. tinha sentimentos de culpa etc já foi. Gosto muito de ti Rosa. Boa noite.
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