O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, março 25, 2023

TRÊS VISÕES DO DRAMA DA MULHER



Inveja do útero e da vagina

"Na psicologia feminista os termos inveja do útero e inveja da vagina denotam a ansiedade não expressa que alguns homens sentem na inveja natural das funções biológicas específicas das mulheres (gravidez, parto, aleitamento materno) — emoções que impulsionam sua subordinação social das mulheres, e para dirigirem-se ao sucesso na perpetuação de seus nomes através de legados materiais. Cada termo é análogo ao conceito de inveja feminina do pênis, derivado da teoria do desenvolvimento psicossexual, presente na psicologia Freudiana; eles abordam as dinâmicas do papel social de gênero subjacentes à “inveja e fascínio com os seios femininos e a lactação, com a gravidez e o parto, e a inveja da vagina [que] são pistas para um complexo de feminilidade dos homens, que se defendem contra por meios psicológicos e socioculturais”. Inveja do útero denota a inveja que os homens sentem de um papel principal da mulher de alimentar e sustentar a vida. Ao cunhar o termo, a psiquiatra Neo-Freudiana Karen Horney (1885–1952) propôs que os homens experimentam a inveja do útero mais fortemente do que as mulheres experimentam a inveja do pênis, porque “os homens precisam depreciar as mulheres mais do que as mulheres precisam depreciar os homens”. Como psicanalista, Horney considerou a inveja do útero uma tendência cultural, psicossocial, como o conceito de inveja do pênis, ao invés de uma característica psicológica masculina inata."


"A gravidade da ferida psicossomática no caso da criatura humana vem dada pela natureza da catexia libidinal, que é uma catexia e um tipo de libido para um estado de simbiose; um fluido PERMANENTE que deve impregnar a simbiose e produzir a mútua interpenetração harmoniosa. Suzanne Blaise, quando analisa a mulher paleolítica como 'agente da evolução humana' destaca a capacidade específica da mulher de 'ocupar-se permanentemente de outros', como uma QUALIDADE FEMININA que o homem não tem, e não como o resultado da nossa escravidão milenar.
Essa qualidade e intensidade -seu fluir permanente- da libido feminina está diretamente imbuída na expansão da vida, e por isso a sua repressão produz uma ferida tão profunda e básica na criatura humana. E por isso a frustração e desespero do bebê afastado da mãe depois de nascer manifesta-se com um choro tão lancinante de dor, terrível."

Cassilda Rodrigánez Bustos - O assalto ao Hades


AFINAL O QUE É O FEMININO SAGRADO?


Muitas mulheres hoje em dia falam e escrevem sobre o Feminino Sagrado...fazem-se cursos e workshops, palestras e seminários...Tudo isso é sem dúvida muito enriquecedor...e valioso certamente e traz luz a traumas e complexos, feridas a ser tratadas, e dramas sem fim que todas as mulheres vivem na pele, principalmente as doenças de "foro feminino", como se as mulheres fossem predispostas a doenças...e até se aceita isso como se fosse normal...pelo menos pela "medicina"...
Mas eu queria referir-me aqui não às doenças que atacam as mulheres, mas o facto de esse interesse pelo "sagrado" estar apenas e quase sempre ligado ao corpo e ao sexo e ao prazer etc...afinal, reduzindo a mulher sempre ao corpo de desejo e ao sexo...aos amantes e filhos NUNCA A ELAS MESMAS como entes mas sempre ligadas a função maternal e de prazer...
Nunca ao Feminino ontológico, às razões e às causas da doenças e sobretudo o branqueando da divisão ancestral da mulher em vários estereótipos e arquétipos, aceitando-se de animo leve a fragmentação da mulher, como se a mulher tivesse mil caras e fosse realmente uma histérica...Poucas mulheres se preocupam com a integralidade do Ser Mulher, com a integração das duas mulheres - os dois aspectos que o patriarcalismo religioso e social dividiu na mulher: sexualidade/sensualidade e maternidade cada uma para o seu lado e como funções opostas - e nem sequer entendem que a causa primeira do seu sofrimento e vazio, e busca do sexo e do homem ou do filho para se REALIZAR não é mais do que o reflexo desse vazio interno, dessa falta de identidade MULHER como um todo em si mesma. Será que a Mulher NÃO consegue SER MULHER sem ser em função da sua sexualidade/maternidade? Será que a mulher NÃO tem em si substância alquímica e a anímica para SER EM SI MESMA e valer só por si...livre e SEM PAR? Será que eu estou a dizer uma blasfémia...
Afinal o Sagrado Feminino não deveria ser a Mulher Inteira, a Deusa como mulher, a mulher integral una e uma só...sem faces - tirando as fases e faces da Lua de cada mulher como o processo natural do seu crescimento humano?
Será que estamos condenadas a ser só as divas e as musas e também os objectos sexuais, o vaso de despejos seminal dos homens e viver eternamente dependentes do prazer e do orgasmo...ou será que há uma CONSCIÊNCIA SUPERIOR E ONTOLÓGICA QUE REDIMENSIONA A MULHER AO nível da sua Psique e da sua Alma e lhe dá um novo estatuto na sociedade humana e cujo FOCO é em si mesma e não, por amor da Deusa, sempre no "outro/a" e no prazer do sexo e do corpo???
Será que as mulheres não sonham com um Prazer/Sentir muito maior, muito mais profundo e muito mais elevado - sim, do corpo da alma de do espírito unificados - e possam de uma vez por toda serem só MULHERES?

rosaleonorpedro


1 comentário:

Anónimo disse...

Com a maternidade me senti completa em mim mesma, o que explica o vazio que você fala das mulheres de querer ter filhos e isso é tão forte que muitas mulheres ao me verem com a bebê nos braços falam "eu não quis ter filhos, ou nos encontrei o parceiro certo", se justificando sem ninguém tocar no assunto. E como mãe, já não me interessa nem os homens e as desculpas das mulheres, mas é uma realidade muito pesada que todos tenham reduzir quando nos buscamos tendo que cuidar do outro...eu só quero ir em direção de mim mesma, sigo com minhas responsabilidades, as tomei com amor, mas eu eu existo para além de tudo isso, eu sinto...mas estar na pele de uma mulher já é um labirinto suficiente para este mundo... às vezes me sinto sufocada, nem as mulheres querem ouvir, parecem que tem um medo de ouvir sobre si mesmas.