O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, março 25, 2023

E assim é, de geração em geração...



AS mulheres são todas românticas invertebradas...
 
(Este texto é assinado pela minha sósia... serve de exorcismo para quem quiser ler...)


As mulheres sofrem há muito tempo de um romantismo endémico, doentio e paranoico, infantiloide! Elas vivem assim há séculos. A serem desvalorizadas, a serem humilhadas, a levar pancada, a serem enganadas e perseguidas e prostituídas, abusadas e violadas, caladas a força, sejam até ministras sem nome e ainda assim sonham com o homem modelo, o gajo espadaúdo, ou o machão da rua, o Ronaldo da bola ou o padre da sacristia ou então o xamã da Argentina, o lama do Tibet ou o chefe misógino que a trata abaixo de cão mas que lhe dá palmadinhas no rabo a socapa… e ela se sente engrandecida!
Elas viveram as suas vidas inteiras na ilusão de um amor a ouvir canções de caixão a cova, musicas de dor e abandono, e elas todas, as pobrezinhas e as ricas, as educadas e as mal paridas, as pés descalço e as nascidas em berços de oiro...todas andam a cata de um amor sem fim que as salve do vazio e assim desde pequeninas, as muito bem comportadas e as mal comportadas, todas leram as histórias da carochinha que é bonita e formozinha e a da gata borralheira que era orfã e ficou criada do castelo e da madrasta era má e as filhas dela cruéis…e liam esses livros as meninas ricas e sonhavam com as madrinhas fadas e o Príncipe encantado, o cavaleiro ideal, e as pobrezinhas talvez lessem alguma revista pornográfica e romances de cordel em que o rico chega para as levar de carro descapotável a passear… ou lhes oferece um andar novo...
Sempre umas e outras à espera de casar com o cavalheiro gentil, o herói do filme, o cadete da marinha, ou o pai natal, mas e com a chegada da new age, essa “espiritualidade" de pacote, temos hoje em dia novos modelos, como o do homem selvagem, mas delicado, o índio de cabelos compridos, e lá vem o masculino sagrado, afeminado e mais o sexo ideal e o Tantra e a Kundalini , mais os chacras para cima e os chacras para baixo…e sempre essa obsessão do amor ideal, da alma gémea, desse homem que as havia de amar para a eternidade.
É ainda assim e vimos abismadas como as mulheres mais novas e as mais velhas e as maduras e as divorciadas e as solteiras e as casadas, todas elas ainda sonham com o homem dos seus sonhos cor-de-rosa, musculado e bem parecido o galã do filme (já disse?) que as há de realizar e fazer sentir vivas e preenchidas, durante nove meses pelo menos, a menos que tomem a pilula…ou eles usem camisinha.
E assim é, de geração em geração, as mulheres trazem com elas esse romantismo arraigado nelas, burro, incompreensível e patético para todo o lado. Para deus lá no alto, para a natureza selvagem, que é bela e natural, para o mar forte e indomável como o seu herói, e olham para a sociedade opressora, mesquinha e preconceituosa mas elas acham que são caridosas e ainda bem que há refugiados e pobrezinhos para ajudar ...
Mas o que é mais irritante, é vermos todos esses sonhos e os lacinhos azuis e amarelos ou cor-de-rosa a embrulhar a guerra e o cancro e todas essas merdas viróticas enfeitadas de sonhos e bondades e elas não veem um palmo a frente do nariz como se fossem atrasadas mentais, débeis, criaturas de deus e infantilizadas até a medula, sempre prontas para pagar a bruxas e a médiuns e a astrólogos e a terapeutas para curar as relações feridas de morte e os abandonos e lá vem esse séquito todo de românticas oportunistas salvadoras a cair sobre as vitimas como algozes para salvar as outras, e elas são sexo na 3ª idade e mesmo as velhinhas, as mais senis ainda se pintam para atrair o senhor de posição ou do viuvo do lar que as acarinhará nas noites frias de luar e das dores de ciática…
Sempre a mesma patologia deste romantismo ingénuo, camuflado de positivismo; é uma nova onda agora, mas na verdade é sempre esse mesmo romantismo rançoso e doce sobre tudo mesmo sobre o horrível da vida e das doenças e do podre de todas estas histórias e mentiras seculares…Dor e sofrimento escondido para debaixo do tapete…para a vizinha não ver!
E …ele é o dia lindo de sol e não veem a seca atroz e os animais a morrer sem pasto e de fome, ele é as criancinhas muito docinhas, os netinhos muito lindinhos, sempre a sujar-se e as flores na janela e as velhinhas simples da aldeia…ah sim, os animais que lindos e amorosos, as flores na primavera… as árvores majestosas e os ramos abundantes de frutos que vão apodrecer ou ser deitados no lixo pelos produtores…
Não, elas não veem a merda da guerra e os refugiados por todos os lados do Irão e da Siria e andam por ai de bandeirinhas à volta dos anjinhos da urania ou da patagónia que vão buscar… mas os meninos negros e escurinhos, cadavéricos a morrer de fome, passa-lhes ao lado, claro … porque esses não vem nas histórias que leram quando eram meninas e o papa lhes lia contos para adormecer e manter a menina cativa do seu zelo de Pai todo poderoso…enquanto as mães azedas e frustradas e frigidas, coitadas bebiam um cálice de Porto no salão… e sabe-se lá o que pensavam!
rlp


2 comentários:

Mafalda Cancela disse...

Obrigada Sócia ! É uma honra ler-te.

Anónimo disse...

Me fez rir e como é verdade tudo isso, e é incrível como traduz os "mundos" com tuas palavras. Na pequena cidade onde vivo, tudo é amor para as mulheres, fluido, não se pode falar de dor, não se pode falar do que se passa no mundo...a "medicina" fala mas elas não veem os espíritos perdidos ao redor da fogueira, todas são Deusas e quem fala é magra e tem menos de 30 anos, elas sabem tudo e expõm tudo, como se a experiência de ser mulher fosse um mercado... já nem sei para onde vai essa humanidade, a que restar, os que não são híbridos. Eu tento, mas vejo as mulheres cada vez mais perdidas, e volto a seguir solitária... obrigada sempre, é um alívio ler isto. Beijo Bruna