O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, julho 30, 2003

NAS MARGENS ALTAS DESPONTAM GRÃOS DE OIRO...


SAFO - Fragmentos (de uma alma eterna...)






Talvez um de nós morra até hoje.


Talvez de noite regresse a casa e se aparceba da desintegração gradual dos objectos, do remoinho que reúne as partículas nos rítmos particulares que são as coisas. Talvez o teu corpo astral esteja ferido. E se chorar cair-lhe-á dos olhos uma lágima invisível porque o corpo é o leito onde dormimos permanentemente até ao momento de sabermos que estamos abertos para a cegueira irreal, a única verdadeira.

E se o deslumbramento cessa, cessa o canto.

Tanto labor consome a busca que em cada instante eu sei que vou ficando mais, pois antes que oráculo significasse resposta já uma pluma era o signo de verdade.
Enquanto o ouroboros continuar doemindo nós seremos sempre corpos de uma outra cabeça.
De cada vez que uma só gota do teu íntimo se escape verás que ela se condensa e de tal modo se adensa que entre ti e aquele entreviu apenas um só cílio do teu íntimo se erguerá uma grade, uma barreira, uma lança.
E essa lança a ti próprio te fere.
Íntimo é aquele ser laborioso de incompreensível substância, lagarta em permanente metamorfose de que tu és apenas o invólucro, a segregação visível da glândula Íntimo e as suas metamorfoses são as tuas


ANA HATHERLY
SIGMA




Porque é culpa, se alguma coisa é culpa,
não multiplicar a liberdade de um ser amado
de toda a liberdade que em nós possamos achar.
Onde amamos, temos apenas isto:
deixar-nos uns aos outros; porque prender-nos
é-nos fácil e não é preciso aprendê-lo.


RAINER MARIA RILKE (1875-1926)
Tradução de Paulo Quintela

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