O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, janeiro 15, 2004

O CÁLICE E A ESPADA - O LIVRO

Excertos

Pareceria inteiramente lógico que o visível dimorfismo, ou diferença de forma, entre as duas metades da humanidade tivesse um efeito profundo nos sistemas de crença paleolíticos. E pareceria igualmente lógico que o facto de tanto a vida humana como animal ser gerada pelo corpo feminino e de, à semelhança das estações e da lua, o corpo da mulher percorrer igualmente ciclos, levasse os nossos antepassados a encarar sob forma feminina, em vez de masculina, os poderes que geram e sustentam a vida do mundo.

Em Creta, pela derradeira vez na história registada, parece ter prevalecido um espírito de harmonia entre mulheres e homens, como participantes joviais e iguais na vida. É este espírito que parece iluminar a tradição artística de Creta, uma tradição que, ainda nas palavras de Platon, é única no seu "prazer da beleza, da graça e do movimento" e na sua "fruição da vida e proximidade da natureza".

Dirigidas ao público original da Bíblia -- o povo de Canaã, que recordaria ainda os terríveis castigos infligidos aos seus antepassados pelos homens que trouxeram consigo os novos deuses da guerra e do trovão --, as consequências horríveis da desobediência de Eva às ordens de Jeová eram mais do que uma alegoria sobre o carácter "pecaminoso" da humanidade. Eram um aviso claro para ser evitada a adoração ainda persistente da Deusa.

Seja em nome da defesa nacional, como nos EUA e na URSS, ou do santo nome de Deus, como no mundo muçulmano, a guerra e a preparação para a guerra servem para reforçar não apenas a dominância e violência masculinas, como o ilustram tanto a Alemanha de Hitler como a Rússia de Estaline, mas igualmente a terceira componente fundamental do sistema, o autoritarismo. Os tempos de guerra fornecem a justificação para lideranças "musculadas".

Estas novas formas de visualizar a realidade, tanto para mulheres como para homens, estão na origem de novos modelos da psique humana. O antigo modelo freudiano via os seres humanos basicamente em termos de pulsões elementares, como a necessidade de alimento, sexo e segurança. O modelo mais recente proposto por Abraham Maslow e outros psicólogos humanistas leva em conta estas necessidades elementares "defensivas" mas reconhece também possuírem os seres humanos um nível superior de necessidades de "crescimento" e "realização" que nos distinguem dos outros animais.


RIANE EISLER

"VIA ÓPTIMA" - EDITORES

Sem comentários: