O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
terça-feira, fevereiro 15, 2005
OS POLÍTICOS, OS BISPOS e as mulheres...
“...a submissão cega a uma autoridade confessionária é uma desculpa que, suprimindo a sensação de responsabilidade, entrava a aprendizagem do discernimento”
Foi essa submissão cega que reduziu os homens e as mulheres presos de uma autoridade confessionária, a seres sem discernimento e sem autonomia, presos de dogmas e preconceitos seculares e que caracteriza um País sumamente atrazado como Portugal.
É notório o aproveitamento político desse atrazo, AINDA HOJE, AO FIM DE TRINTA ANOS DE DEMOCRACIA (como foi no caso da morte da “irmã Lúcia”) - para não falar da própria Igreja que vive exclusivamente desse atrazo e miséria - que permite essa desresponsabilidade dos seus seguidores e fiéis, que se demitem de pensar a vida e o conhecimento humano para e por medo, seja do pecado seja do inferno, seja da Pide durante o fascismo, seguirem uma fé ainda mais cega do que a sua submissão.
Mas foi sobretudo nas mulheres, as mais submissas, ignorantes e obedientes ao patriarcado - que as dominou sempre ao longo dos séculos - em quem mais se fez sentir esse atrazo, porque a mulher foi em si mesma dividida em duas e por isso destituída de identidade profunda. Nem as ideologias comunistas, nem as democracias libertaram a mulher do seu estigma de pecadora ou adúltera...
A violência doméstica continua ancorada ao preconceito católico...
A mulher ao ser dividida em duas espécies de mulher (a santa e a prostituta) sofre uma fractura no seu ser essencial enquante mãe e amante simultaneamente e essa é a cisão mais antiga e mais lesiva da imagem da mulher como ser sensual e maternal, obrigada que foi a reprimir uma ou a outra faceta do seu ser em função das funções que os homens e a sociedade lhes atribuiaram de acordo com a sua “obediência”. Esposa fiel, uma “senhora” ou uma “santa”. Sensual e amante ou sedutora, uma semi-prostituta...Aí os homens obedientes e católicos tinham a esposa em casa para fazer filhos, e para gozar, amantes nos bordéis, bares ou “por conta”...
Assim como Maria Madalena foi associada a uma "prostituta" por ser livre e sacerdotisa da Grande Mãe em Magdala, para ser renegada da Igreja e banida dos evangelhos, também a mulher que ousa ser livre nos nossos dias sofre represálias de todos os tipos...
Desde a violência à violação, tendo passado pelas fogueiras da Inquisição.
Por tudo isso a mulher foi e é ainda a vítima mais directa da preponderância do poder patiarcal quer como ser humano, sem direito a uma parte integrante de si própria, assim como na sua vida privada e social em que sofre toda a espécie de abusos e proibições ou condenações sem direito à sua total autonomia, como é o caso da condenação à prisão por interrupção voluntária da gravidez...
R.L.P.
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