Há dias no Público:
É provável que o leitor comum sinta perplexidade face ao nome e à obra de Jan Morris, que nasceu (em 1926) James Humphrey Morris, estudou História em Oxford, frequentou a Academia Militar de Sandhurst, combateu na Segunda Guerra Mundial como oficial dos Lanceiros da Rainha, tornou-se um escritor famoso e, em 1972, mudou de sexo, continuando a viver com a mulher que lhe deu cinco filhos (um deles é o poeta e músico Twm Morys). Nesse ano, atenta a nova identidade sexual, adoptou o nome de Jan Morris. Como nota Carlos Vaz Marques no prefácio de Veneza, cuja versão actualizada foi agora traduzida, «É quase escandaloso [...] ser esta a primeira vez que o leitor tem a oportunidade de encontrar o nome de Jan Morris nas estantes das livrarias portuguesas.» De facto.
A obra é vasta: entre livros de viagem (os mais aclamados), ensaios, cinco volumes de memórias, dois romances, uma colectânea de contos, uma biografia do almirante Jackie Fisher, recolhas de artigos, etc., Morris tem publicada meia centena de títulos. Como introdução, recomendaria três: o excepcional Veneza (1960), o pungente relato autobiográfico de Conundrum (1974), e a trilogia Pax Britannica (1978), sobre as luzes e sombras do Império.
A primeira versão de Veneza foi escrita «ainda na pessoa de James Morris», o que não aconteceu nas de 1974, 1983 e 1993. Muita coisa mudou desde 1945, ano da primeira visita, quando o então jovem oficial se deixou seduzir pela «mistura de tristeza e espectacularidade» da cidade, associando o perfil dos «palácios periclitantes» a um bando de «aristocratas inválidos que se atropelam para apanhar ar fresco.» A escrita é fluente, capaz de cerzir informação prosaica com erudição histórica, sem com isso beliscar a melodia da frase.
(...)
jornal publico
É provável que o leitor comum sinta perplexidade face ao nome e à obra de Jan Morris, que nasceu (em 1926) James Humphrey Morris, estudou História em Oxford, frequentou a Academia Militar de Sandhurst, combateu na Segunda Guerra Mundial como oficial dos Lanceiros da Rainha, tornou-se um escritor famoso e, em 1972, mudou de sexo, continuando a viver com a mulher que lhe deu cinco filhos (um deles é o poeta e músico Twm Morys). Nesse ano, atenta a nova identidade sexual, adoptou o nome de Jan Morris. Como nota Carlos Vaz Marques no prefácio de Veneza, cuja versão actualizada foi agora traduzida, «É quase escandaloso [...] ser esta a primeira vez que o leitor tem a oportunidade de encontrar o nome de Jan Morris nas estantes das livrarias portuguesas.» De facto.
A obra é vasta: entre livros de viagem (os mais aclamados), ensaios, cinco volumes de memórias, dois romances, uma colectânea de contos, uma biografia do almirante Jackie Fisher, recolhas de artigos, etc., Morris tem publicada meia centena de títulos. Como introdução, recomendaria três: o excepcional Veneza (1960), o pungente relato autobiográfico de Conundrum (1974), e a trilogia Pax Britannica (1978), sobre as luzes e sombras do Império.
A primeira versão de Veneza foi escrita «ainda na pessoa de James Morris», o que não aconteceu nas de 1974, 1983 e 1993. Muita coisa mudou desde 1945, ano da primeira visita, quando o então jovem oficial se deixou seduzir pela «mistura de tristeza e espectacularidade» da cidade, associando o perfil dos «palácios periclitantes» a um bando de «aristocratas inválidos que se atropelam para apanhar ar fresco.» A escrita é fluente, capaz de cerzir informação prosaica com erudição histórica, sem com isso beliscar a melodia da frase.
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