A PALAVRA DE MULHER NÃO VALE UM CHAVO...
“Na verdade nem todos os jantares acabam de forma tão lastimável. No entanto, qualquer que seja o enredo, a palavra da mulher não vale nada. O seu desejo é acessório. O facto de ela dizer que não, não está previsto no programa. Quem não se lembra de um anúncio (...) onde aparecia uma mulher negra fantástica e cujo slogan era: “mesmo que digam não, percebemos que sim”. As feministas tentaram retirar o cartaz. Ninguém lhes deu ouvidos. Não achas isso incrível?(…)
No entanto ninguém ficou chocado, ou seja, perceber sim quando a mulher diz não, faz parte das coisas que passam despercebidas. Será porque são demasiado habituais? O discurso feminino é captado pelos homens como um ruído de fundo.
(...) Eles não têm ouvidos para as mulheres. Isso não lhes interessa. Não há lugar no nosso sistema para aquilo que não interessa aos homens. (…)
As mulheres têm a opção entre não dizer nada ou só dizer aquilo que eles querem ouvir.”
in “Todos os homens são iguais...mesmo as mulheres”
Isabelle Alonso
Este pequeno excerto vem apenas ilustrar esta ideia curiosa precisamente porque passa desapercebida ao grande público e aos leitores em geral – homens e mulheres - de que a mulher não é ouvida na sua realidade seja ela qual for e a sua palavra de facto não vale nada.
Vem isto a propósito de umas mensagens de que fui alvo no decorrer da semana às quais respondi inicialmente tentando esclarecer o fulano que mas mandava que, primeiro, se devia ter enganado no número, depois, que não estava interessada nesse tipo de conversa e ainda que era uma senhora de idade...Nada resultou! O dito indivíduo, fez ouvidos de mercador, continuou a propor-me situações de encontro e intenções equivocadas, a que eu deixei de responder mas, ainda antes de ter filtrado o número (desconhecido), recebi a mensagem: “ando doido a pensar todo o dia em nós, porque não nos encontramos e esclarecemos isto tranquilamente”...
Em NÓS?
Desde quando “nós”?
Sim, é verdade que há aquele lugar comum de que o "amor" é cego...e que um homem, por suposto, "apaixonado" não pensa... Mas essa foi a "treta" com que nos tramaram... A verdade é que eu disse NÃO, que não o conhecia nem queria conhecer, que não estava interessada em conversas daquelas, que já tinha uma certa idade, para parar de me enviar mensagens que eu não responderia mais...Tudo isto com delicadeza!
Mas Não, não serviu de nada. O dito anónimo passou por cima da minha palavra, da minha vontade, da minha idade...e isto só pode ser encarado como violência psicológica e uma forma de agressão subtil; mostra claramente a falta do mais elementar respeito que os homens em geral têm pela mulher...Por fim alguém me ensinou a filtrar o número e assim nunca mais recebi mensagens incómodas, invasivas, forçadas.
Exemplos destes há muitos. Ainda ontem, na andar de cima, do meu vizinho que até é educado, o filho deste e os amigos a quem ele emprestou a casa para o fim-de-semana, fizeram uma tal algazarra até às 3 da manhã como se estivessem na quinta do pai em vez de um pequeno apartamento frente ao mar...
Eu que sou celibatária por opção e senhora da minha vida vejo como não estou ao abrigo dessa violência meramente por desrespeito da Mulher e sobretudo da mulher que vive sozinha, sem o macho que a “proteja! Esta é a mentalidade não só na França, onde vive a autora do livro e que fala obviamente dos franceses, como dos portugueses que ainda são piores; sabemos que os países, mesmo sendo mais ou menos civilizados aqui ou ali, como mundo dos Homens é todo igual. A palavra das mulheres não vale mesmo nada!
A Foto: Há lugares onde tudo é muito mais grave como ilustra a imagem que não é de jantar em Paris mas de um filme baseado num caso verdadeiro...
"Uma mulher iraniana é condenada injustamente por adultério, amarrada, amordaçada e enterrada na terra até a cintura, para então ser morta a pedradas numa sequência sangrenta e chocante de um filme que chega aos cinemas americanos esta semana.
"The stoning of Soraya M." (O apedrejamento de Soraya M.) é uma dramatização baseada no best-seller do mesmo título escrito por um jornalista franco-iraniano sobre a morte de uma mulher num povoado iraniano em 1986."
rlp
5 comentários:
Quando estamos presentes e somos conscientes, tudo se torna simples. Este Post é fantástico e muito actual. Existem de facto pessoas cujas realidades nos surpreendem e cujo coração gostaríamos de alcançar para poder dizer qualquer coisa como: Será que é este o caminho?
Conhecemos quem viva num profundo terror, imposto por uma mulher que acha que um determinado homem lhe pertence; ela ascende nas leis do universo, conhece-o deste há 700 anos, em Plutão como referiu e quaquer mulher que cruze a vida deste homem está a mais e deve sair do seu caminho; se o não fazem, persegue-os e ameaça-os das piores atrocidades possíveis, que nem na imaginação do mais criativo argumentista de filmes de terror, poderíamos supor possível.
Esta mulher tem um nome. É real. Não se trata de nenhuma ficção.
Para as autoridades deste país, a violência que instiga é de menor importância: ainda ninguém morreu! Veremos, se entretanto nada acontece e alguém recorre a mais um 'caso da vida real' para ficcionar o absurdo e encaixar uns milhões.
The Stoning of Soraya M., também acontece por aqui, em Portugal, país de brandos costumes, diz-se.... Obrigada pelo alerta.
Sofia Cordis
No ocidente as mulheres podem viver sozinhas, mas tem de levar com o preconceito encima... mas realmente qdo penso na situação das mulheres no oriente, fico estuefacta... as mulheres livres são a minoria...
Nana
Eu falava dos homens mas há também mulheres obcecadas pelos homens e capazes de loucuras...elas não têm escape...só sabem e viver em função do homem, o que é diferente da "Posse" total implícita que os homens têm das mulheres e o direito de as maltratar ou serem donos...mas a mulher pode ser louca, suicida ou mesma assassina por paixão pois coloca toda a sua vitalidade no sonho do outro...e não sabe nada dela do seu ser interior, da mulher completa em si, que se ama a si mesma e se basta...e que também ama livremente quando quer e em reciprocidade...
obrigada Sofia pelas suas palavras.
um abraço
rleonor
É verdade Nana, nós quixamo-nos mas o oriente é dramático e assustador.Como é que é possível que nos nossos dias ainda se possa ser tão explorada e reduzida a nada!
Um abraço
rleonor
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