QUEM SOU EU? (2 PARTE)(...)
Cada um de vocês não passa de um mero exemplar de autômato animado.
Vocês pensam que é necessário um "alma" e até um "espírito" para fazerem o que fazem e viverem como vivem.
No entanto, talvez basta uma chave para dar corda ao seu mecanismo. Suas rações de alimento cotidiano contribuem para dar corda à mola e para renovar continuamente as piruetas vãs de suas associações. Certos pensamentos desalinhavados surgem desse pano de fundo e vocês tentam fazer deles um todo, apresentando-os como preciosos e pessoais. Da mesma forma, com os sentimentos e as sensações que passam, os humores, as experiências vívidas, criamos a miragem de uma vida interior. Dizemos que somos seres conscientes, capazes de raciocínio; falamos de Deus, da eternidade, da vida eterna e de outros assuntos elevados; falamos de tudo que se possa imaginar; julgamos, discutimos, definimos e apreciamos, mas omitimos falar de nós mesmos e de nosso real valor objetivo, pois estamos todos convencidos de que, se nos falta alguma coisa, poderemos certamente adquiri-la.
Se, com tudo que eu disse, consegui, mesmo numa pequena medida, mostrar com clareza em que caos vive esse ser que chamamos homem, vocês estarão em condições de encontrar por si mesmos uma resposta à pergunta sobre o que falta a ele, o que ele pode esperar se permanecer como é, o que poderá acrescentar de legítimo ao valor que ele próprio representa.
Já disse que certos homens têm fome de verdade. Se eles refletirem sobre os problemas da vida e forem sinceros consigo mesmos, logo se convencerão de que não lhes é mais possível viver como viveram, nem ser o que foram até o presente; que precisam a qualquer preço encontrar uma saída para essa situação e que um homem só pode desenvolver seus poderes e capacidades ocultos se limpar sua máquina de todas as sujeiras que nela se imiscuíram durante a sua vida. Para empreender essa limpeza de forma racional, é preciso ver o que deve ser limpo, onde e como . Mas ver isso por si mesmo é quase impossível. Para ver o que seja o que for dessa espécie, deve-se olhar do exterior; e, para isso, a ajuda mútua é indispensável.
Se lembrarem do exemplo de identificação que dei, verão como um homem é cego, quando se identifica com seus humores, seus sentimentos e pensamentos. Mas nossa dependência se limitará às coisas que podem ser captadas no primeiro instante? Àquelas que são tão salientes que não possam deixar de chamar a atenção? Lembram-se do que dissemos sobre a maneira como julgamos o caráter das pessoas, dividindo-as de modo arbitrário em boas e más?
À medida que um homem começa a se conhecer, descobre sempre novos domínios de mecanicidade em si mesmo - chamemos isso de automatismo - , domínios onde sua vontade, se "eu quero", não tem nenhum poder e onde tudo é tão confuso e sutil, que é impossível ele se achar dentro dessa confusão, sem ser ajudado e guiado pela autoridade de quem sabe.
Em suma, este é o estado de coisas no que se refere ao conhecimento de si: para fazer, é preciso saber; isso não podemos descobrir sozinhos.
GURDJIIEFF
Continua...
LER NA ÍNTEGRA EM PISTAS DO CAMINHO








Enviei essa mensagem alguns dias atrás para todos os que participam do meu e-mail...
Muitas dúvidas são levantadas... inclusive em relação ao respeito da cultura: até quando uma cultura deve ser respeitada? Quais são os limites da intervenção? Como olhar o outro com alteridade? O que é ético e o que é moral? Há como universalizar esses conceitos? Quais critérios para a universalização da moral? A minha verdade? No que acreditar? Em quem acreditar? Porque as religiões são tão poderosas em quase todas as sociedades?
R.- Muito difícil responder filosoficamente...mas é fácil se percebermos que vivemos num mundo de poder e guerra onde de violência é a dos mais fortes sobre os mais fracos e que ela é praticada sobre crianças e mulheres em nome de religiões e da moral...não há contudo, nenhum deus nem moral, mas homens e as suas religiões e filosofias que o preconizam. Religiões e filosofias defendem apenas o poder dos que dominam o mundo, desde há muitos séculos. A História dos Homens não é a história verdadeira, mas a história dos conquistadores, dos saqueadores, dos violadores, dos poderosos que hoje fazem as leis e criaram os dogmas.
Espero que seja claro para si que há um mundo patriarcal e que nele a mulher e a criança foram as suas principais vítimas e ainda o são em quase todo o mundo.
Anónimo disse...
O pior é que isso não me surpreende....Havia uma época que ficava surpreendida com estes casos...Mas isso já passou...O pior é quando não nos surpreendemos mais, quando passamos a ver isso como uma coisa que acontece...Ainda fico arrasada e algumas vezes vibro de ressentimento e raiva por dentro pela vontade de mudança...Mas já não mas me surpreende. Eu não vejo isso como uma coisa comum mais se não formos enraivecidos isso logo se tornará comum para as pessoas...Para mim é uma insanidade, cruel e totalemnte desprovida de de ética e moral...E Eles ainda afirmam isso a seu deus...
Gaia Lil
R. - Eu não creio que nós possamos fazer alguma coisa que não seja criar a nossa realidade própria e à medida que o formos fazendo vamos contribuindo para um mundo melhor. Mas por vezes não podemos deixar de denunciar um mundo tão absurdo e cruel como o vemos hoje...algumas das meninas da foto até perecem contentes, mas uma qualquer criança fica contente com uma festa...não sabe é que vai para o inferno enquanto o pai e o "santo esposo" vão para o céu...
Fico sempre agoniada ao ver isto, mas não creio que sirva de alguma coisa ficar com raiva...
Hiparquia disse:
Hanna Arendt chama isso de banalização do mal, outros ainda de normatização da barbárie... ou questione seja... quando levo a questionar os valores que nos movem... quero que se os nossos também... expectadores das desgraças... hipócritas que choram pelas mazelas do mundo diante de sua televisão de plasma... seu prato farto... sua cama confortável ... seus relacionamentos cômodos... suas frustrações mesquinhas... enfim... será que o nosso excesso de razão nos "incifilizou"... ou no fundo somos isso mesmos: lobos de nós??
R. - Só posso reforças cada uma das suas palavras. Tenho pensado muito nisso, hoje mesmo pensei escrever sobre a questão: somos espectadores das desgraças alheias...grandes hipócritas, como você diz, que choramos a visão da criança famélica do Biafra com um prato cheio de comida à frente...e esta é a banalização do mal, como diz a Hanna Arendt. Ainda há momentos falava a um amigo desses emails que nos chegam, com fotos do horror da fome e outros e o reenviamos como um dever cumprido. Recuso-me a fazê-lo e nem sequer os quero ver. Tão pouco quero assinar petições...
Manter-nos lúcidos perante os factos e sermos conscientes da armadilha que é agir assim. Na verdade não podemos fazer nada a não ser tentar não cair na armadilha.
Por isso não vejo televisão...e apago certos emails.
Somos como vampiros da desgraça...alimentamos as nossas frustrações com os males maiores...e julgamo-nos civilizados?
Como sair disto? Olhar para dentro, seguir um caminho interior...?
Obrigada pelo repto!