O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
Enviei essa mensagem alguns dias atrás para todos os que participam do meu e-mail...
Muitas dúvidas são levantadas... inclusive em relação ao respeito da cultura: até quando uma cultura deve ser respeitada? Quais são os limites da intervenção? Como olhar o outro com alteridade? O que é ético e o que é moral? Há como universalizar esses conceitos? Quais critérios para a universalização da moral? A minha verdade? No que acreditar? Em quem acreditar? Porque as religiões são tão poderosas em quase todas as sociedades?
R.- Muito difícil responder filosoficamente...mas é fácil se percebermos que vivemos num mundo de poder e guerra onde de violência é a dos mais fortes sobre os mais fracos e que ela é praticada sobre crianças e mulheres em nome de religiões e da moral...não há contudo, nenhum deus nem moral, mas homens e as suas religiões e filosofias que o preconizam. Religiões e filosofias defendem apenas o poder dos que dominam o mundo, desde há muitos séculos. A História dos Homens não é a história verdadeira, mas a história dos conquistadores, dos saqueadores, dos violadores, dos poderosos que hoje fazem as leis e criaram os dogmas.
Espero que seja claro para si que há um mundo patriarcal e que nele a mulher e a criança foram as suas principais vítimas e ainda o são em quase todo o mundo.
Anónimo disse...
O pior é que isso não me surpreende....Havia uma época que ficava surpreendida com estes casos...Mas isso já passou...O pior é quando não nos surpreendemos mais, quando passamos a ver isso como uma coisa que acontece...Ainda fico arrasada e algumas vezes vibro de ressentimento e raiva por dentro pela vontade de mudança...Mas já não mas me surpreende. Eu não vejo isso como uma coisa comum mais se não formos enraivecidos isso logo se tornará comum para as pessoas...Para mim é uma insanidade, cruel e totalemnte desprovida de de ética e moral...E Eles ainda afirmam isso a seu deus...
Gaia Lil
R. - Eu não creio que nós possamos fazer alguma coisa que não seja criar a nossa realidade própria e à medida que o formos fazendo vamos contribuindo para um mundo melhor. Mas por vezes não podemos deixar de denunciar um mundo tão absurdo e cruel como o vemos hoje...algumas das meninas da foto até perecem contentes, mas uma qualquer criança fica contente com uma festa...não sabe é que vai para o inferno enquanto o pai e o "santo esposo" vão para o céu...
Fico sempre agoniada ao ver isto, mas não creio que sirva de alguma coisa ficar com raiva...
Hiparquia disse:
Hanna Arendt chama isso de banalização do mal, outros ainda de normatização da barbárie... ou questione seja... quando levo a questionar os valores que nos movem... quero que se os nossos também... expectadores das desgraças... hipócritas que choram pelas mazelas do mundo diante de sua televisão de plasma... seu prato farto... sua cama confortável ... seus relacionamentos cômodos... suas frustrações mesquinhas... enfim... será que o nosso excesso de razão nos "incifilizou"... ou no fundo somos isso mesmos: lobos de nós??
R. - Só posso reforças cada uma das suas palavras. Tenho pensado muito nisso, hoje mesmo pensei escrever sobre a questão: somos espectadores das desgraças alheias...grandes hipócritas, como você diz, que choramos a visão da criança famélica do Biafra com um prato cheio de comida à frente...e esta é a banalização do mal, como diz a Hanna Arendt. Ainda há momentos falava a um amigo desses emails que nos chegam, com fotos do horror da fome e outros e o reenviamos como um dever cumprido. Recuso-me a fazê-lo e nem sequer os quero ver. Tão pouco quero assinar petições...
Manter-nos lúcidos perante os factos e sermos conscientes da armadilha que é agir assim. Na verdade não podemos fazer nada a não ser tentar não cair na armadilha.
Por isso não vejo televisão...e apago certos emails.
Somos como vampiros da desgraça...alimentamos as nossas frustrações com os males maiores...e julgamo-nos civilizados?
Como sair disto? Olhar para dentro, seguir um caminho interior...?
Obrigada pelo repto!