O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, fevereiro 16, 2016

COMO PODE UM GRANDE POETA SER ASSIM...



As Pessoas Riam-se de Mim...


A minha susceptibilidade a certo tipo de sustos (medo) era grande. Na rua, um homem caminhando na minha direcção, isto é, na direcção contrária, tirou da algibeira um lenço à minha frente; comecei de imediato a pensar, inconscientemente, acho, que estava a tirar uma arma ou um revólver.
A minha vista curta — nem sempre, mas excessivamente no que respeita aos traços das pessoas, aos gestos — afectava o meu cérebro desequilibrado. A minha imaginação interpretava mal o carácter dos seus olhares. Distorcia, não sabia explicar porquê, a intenção e o significado dos seus gestos. O meu próprio sentido de audição era débil; aplicava a mim próprio, retorcendo-as, as palavras que captava. Via em cada palavra um termo destinado a ofender-me, em cada frase, mal apanhada, a sombra e o vislumbre de um insulto.
As pessoas na rua riam-se: riam-se de mim. A minha vista débil não me deixava destruir esta ilusão. Não me atrevia a pôr os óculos que tinha no bolso, pois temia que as minhas desconfianças se revelassem fundadas.
Ansiava por ter uma grande auto-estima, para que a minha pessoa me fizesse esquecer de mim próprio. Desejava, oh, como desejava! — o impulso de me dedicar aos outros para que eles me fizessem esquecer de mim. Ansiava por morrer, por me esvair da minha personalidade, por deixar a vida esvair-se. Ansiava livrar-me de tudo, ir para longe, para muito longe. Desejava nunca mais olhar para o rosto dos homens.
Nessas horas de intensa dor, desejava, muitas vezes, ter um amigo que pudesse corresponder-me: o meu maior sonho era ter um cão. Sonhava frequentemente ter como companheira uma criança, encontrada na rua, abandonada. Mas nas minhas agonias mais profundas, nas minhas crises mais agudas de dor, não desejava nada senão esquecer. A terra, a natureza, os homens, as formigas, os bichos, os pássaros — desejava estar em sossego longe deles. Ansiava por um sono que nada na vida pode dar. Os meus pensamentos relacionavam-se com a morte, com a completa mortalidade da alma. Ao caminhar nos passeios, parecia-me que despertava risos, que era objecto de troça.
[...] O meu ouvido, meio fraco, revelou-se de uma extrema acuidade para conversas que se desenrolavam atrás de mim. As palavras que apanhava, interpretava-as mal para meu próprio desgosto e sofrimento.

Fernando Pessoa - manuscrito, original em Inglês (1904-1908)

5 comentários:

Vânia disse...

ele é único. profundo intenso. um homem sensível. revoltado deprimido talentoso e um coração generoso. perdido e encontrado. um homem cíclico??!! multifacetado. é por isso q ele é poeta e é assim. de uma alma sensível e gentil. gostava de tê lo conhecido.

Vânia disse...

foi o q de mais fascinante me deram a ler na escola.

Vânia disse...

não posso nem consigo caminhar por ninguém por mais q me doa a alma. também tenho um saco nas costas ... posso dividir umas pedras e deixar outras plo caminho... e por vezes me distraio... se dou azo à emoção posso cegar. tanto numas como noutras. há de facto um mundo perigoso dentro de mim. e careço de equilíbrio tal como o mundo exterior. os solavancos da vida realmente fazer gente crescer. é duro o mundo real. escrevo o agora com um sorriso no rosto. aquele sorriso q é meu e ninguém me tira.

Vânia disse...

Eu hoje repeti ao telefone para alguem ao longo do dia q preciso de um cao pq gatos ja tenho muitos. Agora eu e um cao a correr por ai a fora. Preciso de um cao na minha vida.

Vânia disse...

Eu hoje repeti ao telefone para alguem ao longo do dia q preciso de um cao pq gatos ja tenho muitos. Agora eu e um cao a correr por ai a fora. Preciso de um cao na minha vida.