O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, abril 11, 2016

A ACULTURAÇÃO DA MULHER

"O nosso Dom Afonso Henriques que bateu na mãe, e que se pode ver a sua espada gigantesca e pesada no Museu Militar da cidade do Porto, se em vez de andar às lutas se tivesse de parir, até tremia de medo.
Assim, se são poucos os nomes de mulheres citados nesses livros de História, é apenas porque não caberiam num livro todos os nomes de todas as mulheres que existiram desde que existe a Humanidade, pois todas elas são de uma bravura inultrapassável por qualquer homem por mais "O Bravo" que o seja."  - Vítor Rua, 2014

UM POUCO DE HISTÓRIA...

Durante mais de 2 mil a 5 mil anos a Humanidade retratou-se em nome do Homem…
Durante centenas e centenas de anos a Mulher foi desautorizada de se exprimir, ser ela mesma e de expressar a sua natureza intrínseca, reprimida na sua força interior instintiva, deixando de ser a representante do polo feminino da humanidade, deixando de ser a legítima representante da Deusa Mãe, criadora de todas as coisas, impedida de se afirmar e de ter prazer, de ter direito sobre o seu próprio corpo. Ela foi condenada ao descrédito por Apolo, impedida de manifestar o seu dom inato de oráculo, sacerdotisa e vidente, de ser senhora da sua vida em qualquer circunstância.
Durante centenas e centenas de anos a Mulher foi desautorizada de se exprimir, ser ela mesma e de expressar a sua natureza instintiva e ctónica, dada como perigosa, reprimida na sua força interior  selvagem, deixando de ser a representante do pólo feminino da humanidade, deixando de ser a legítima representante da Deusa Mãe, criadora de todas as coisas, impedida de se afirmar e de ter prazer, de ter direito sobre o seu próprio corpo. Ela foi condenada ao descrédito por Apolo, impedida de manifestar o seu dom inato de oráculo, sacerdotisa e vidente, de ser senhora da sua vida em qualquer circunstância.
O corpo da mulher, com o advento da religião patriarcal e o seu domínio social e religioso, tornou-se num corpo objecto, um corpo ao serviço da sociedade e do patriarcado. A mulher foi paulatinamente despojada do seu corpo de sabedoria, do seu ser instintivo e anímico.  Uma total aculturação!
E toda a gente hoje pensa que esta mulher sem identidade, esta mulher vazia de interioridade profunda, esvaziada das suas entranhas, do seu sangue e do seu útero, sempre foi assim e que nunca houve a outra Mulher e a Deusa…

Esta é obra de Usurpadores, de Inquisidores. Primeiro, os bárbaros destruíram a Deusa e os seus templos, lugares sagrados, a própria terra foi devastada e  assim o próprio corpo sagrado da mulher foi dessacralizado, foi violado, e durante a Idade Media a mulher foi perseguida  como bruxa….depois foi transformado em mercadoria barata ou cara, em mais-valia e assim foi-se aviltando cada vez mais e tornando num ser abjecto, num ser divido dentro de si mesma, num ser sem identidade própria, adoptando um prazer, e quando se julgou igual adoptou um comportamento masculino, um discurso masculino, para se defender com os mesmos valores com que o Homem a agredia.

Há muitos, muitos anos que a verdadeira mulher não existe e em lugar dela temos um sucedâneo de mulher, risível e frágil, doente e histérica…A mulher tornou-se no seu próprio inimigo. PORQUE A mulher verdadeira, a mulher inteira deixou de existir.
E foi assim que a mulher entre a doméstica e a casada, a prostituta e a aventureira, se tornou aos poucos num ser vazio e sem alma…tal como quiseram os senhores da Igreja que assim fosse.
A mulher ou casava segundo um contrato e era pouco mais do que escrava do marido, ou se vendia e vivia na ignomínia nos Bordeis ou na Rua, desprezada e exposta às maiores humilhações.

Com a revolução industrial e depois das últimas guerras, à falta de homens que morreram aos milhões pela loucura dos seus generais e banqueiros, as mulheres tiveram de trabalhar para sobreviver e assim formou-se uma nova classe de mulheres, viúvas, solteiras e velhas, que aos poucos se foram afirmando dentro de um novo contexto até às primeiras manifestações organizadas pelos direitos das mulheres no trabalho, pois o seu salário era e ainda é muito inferior ao dos homens…

Rapidamente caminhámos para os nossos dias, e os anos sessenta trouxeram as famigeradas feministas para a Ribalta,  mas sempre e apenas em luta por direitos e salários iguais e nunca por uma consciência do Ser Mulher e na busca de um resgate da verdadeira mulher, a Mulher a quem durante centenas de anos foi tirado todo o valor e que foi dramaticamente destituída de todas as suas características essências, enquanto ser feminino, assim como da sua dignidade de fêmea e de amante e da sua própria verticalidade. Assim a prostituição nunca foi considerada uma ofensa nem uma afronta à dignidade da mulher, mas plenamente aceite como se fosse uma coisa natural…e defendida como “profissão”…para cúmulo e aberração de um qualquer princípio ontológico…

As mulheres aceitaram ainda todas as histórias que os homens lhes contaram como História, a única existente e os seus valores continuaram a ser os dos homens. Chegadas aos nossos dias, em que há tantas mulheres no poder e tantas mulheres intelectuais, o que fazem as mulheres senão pensar pela cabeça dos homens, fiéis aos seus mestres ou mentores? Elas continuam a ser metades mulheres, fragmentadas e inimigas umas das outras, a servir os seus líderes como serviam os seus amos e senhores, maridos ou amantes.
Hoje, aparentemente descontraídas e livres fazem programas de televisão como mulheres pensantes e intelectuais a dar opiniões sobre a política e os acontecimentos globais ou do país…mas nada é feito para se tornarem conscientes de si mesmas, nada é posto em causa sobre a sua verdadeira e profunda identidade perdida e completamente esquecida. Sim, elas lutaram para defender os seus direitos, mas no fundo, e em todo a parte do mundo, as condições de vida das mulheres é e continua a ser igualmente precária e aviltante sob todos os pontos de vista até hoje…
Mas no fundo são as mesmas católicas submissas aos padres e ao papa, que julgam as mulheres que sofrem e fazem “abortos”, são as mesmas catedráticas oficiantes que educam como os seus professores, as mesmas revolucionárias servis aos seus lideres…sejam comunistas, socialistas ou de direita ou do centro.
Têm todas da mesma marca na testa, todas iguais na maquilhagem, na roupa que vestem e sem identidade. Vestem-se e competem entre si para conquistar lugares de chefia, para agradar aos jornalistas…ao ministro, ao engenheiro, ao médico e até ao homem da rua. Sempre inimigas umas das outras e dispostas a tudo para ganhar o macho e o lugar de ribalta que ele lhe oferece a troco já nõa de dinheiro mas de …uma boa cama! A mulher só tinha e tem valor na horizontal…

A mulher não ser  mulher por si só. Ela não consegue pensar-se a si mesma como ser singular e independente, mas  apenas como mulher ou filha de, amante ou mãe...enquanto que o homem é homem sem ter de pensar no pai na mulher nem nos filhos...ele é um ente em si, define-se com uma individualidade e a mulher ainda não é capaz de se sentir una em si mesma...
rosa Leonor pedro

REPUBLICANDO

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