O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, abril 12, 2016

O PODER DA MULHER



“Obviamente existe outro tipo de poder que foi e é encarnado pelas mulheres, e que não tem menor intensidade que aquele [o que se relaciona mais com as estruturas que regem o contexto social], embora executado por diferentes canais: o poder sobre as relações, aquele que se exerce não através do distanciamento emocional, mas antes através da intensidade dos vínculos emocionais, o que controla o “outro” através da emoção e não da razão.
Hernando* exemplifica estes dois tipos de exercício do poder como “ética da realização”, da identidade do género masculino vs. “ética do cuidado” da identidade do género feminino. O primeiro exige individuação e baseia-se na objetivação do outro, o segundo requer vinculação e dependência, e baseia-se no conhecimento explícito ou intuído da subjetividade do outro. Tende-se a acreditar que o primeiro é mais potente que o segundo, mas neste último:

“A sensação de poder é tão grande que, em minha opinião, compensou em muitas mulheres (de mentalidade patriarcal) a ausência de outro tipo de poder, o racional e político, até à Modernidade, ao tempo em que muitos homens com essa mesma mentalidade atribuem às mulheres um imenso poder, o que faz com que não entendam como podem elas queixar-se de não o terem.”


O PODER DA MULHER aqui referido como um poder intrínseco e natural -  é, neste caso, um ponto fulcral que diz muito do poder da mulher ao olhar do homem patriarcal. Sim, na ausência de presença por ausência de poder politico, social e económico, sem se poder afirmar na sua individualidade e por conseguinte na situação de dependência económica do homem, a mulher valeu-se do seu poder de sedução, sexual e não só, (diria então magnético) em relação aos homens (a mulher fatal e as suas variantes, dependentemente da cultura e da classe social a que pertencia) e de amor empenhado em relação aos filhos (amor maternal), de forma exacerbada em compensação para a sua cisão interior (a santa e a puta), sendo vista como uma ou outra e cuja divisão interna e psicológica o homem não percebeu (nem o psicólogo nem o antropólogo) e agindo ela, diz bem aqui o autor, por compensação,  pela sua limitação racional intelectual e politica imposta e por não ter liberdade justamente de ser ela espontaneamente, uma mulher plena, ela exerceu um PODER  excessivo em termos passionais e maternais, tendo uma influência óbvia na família e no homem.
O Olhar do Homem erudito ou do psicólogo ou escritor sobre a mulher - essa mulher em si dividida em dois estereótipos - o que viu foi a mulher potenciada nos seus atributos  extremos ao ponto de lhe dar essa sensação de grandeza do seu poder, claro, como mãe déspota e temerária, castradora de filhos ou amante promiscua e dominadora ou destruidora de corações e fortunas. Assim eles ficaram com “A sensação de poder é tão grande que, em minha opinião, compensou em muitas mulheres (de mentalidade patriarcal) a ausência de outro tipo de poder, o racional e político, até à Modernidade, ao tempo em que muitos homens com essa mesma mentalidade atribuem às mulheres um imenso poder, o que faz com que não entendam como podem elas queixar-se de não o terem.” - MAS SEM NUNCA A ENTENDEREM...
Quem sabe, só dos nossos dias poderemos rectificar esta consciência da divisão-cisão da mulher e a forma como ela marcou a história dos homens pela sua ausência...
rlp

E AQUI TEMOS UM RETRATO PECISO DA MULHER PATRIARCAL NOS SÉCULOS ANTERIORES:

"Woman are sublimated into something symbolic without presence" (Susana Sidhe Aguilar, Ancient Roots of Goddess Culture)

Referência ao conceito de Eterno Feminino introduzido por Goethe:
...
“Empurra para o alto poetas e filósofos, ideal de pureza contemplativa, de mulher passiva e vazia de poder, compêndio de nobre feminilidade e canonização do “anjo do lar”, dedicada integralmente a ser a intercessora do homem entre ele e o seu bem-estar, encarnada numa santa ou numa obra de arte, condenada à abnegação, carente de história ou morta em vida. e como se não bastasse, enfrentando eternamente a dicotomia anjo ou monstro, pomba ou serpente, Branca de Neve ou madrasta, em definitivo, “a principal criatura gerada pelo homem, “a mulher criada por, a partir de e para o homem, as filhas dos cérebros, costelas e engenhos masculinos*.”

*Angie Simonis, La Diosa: un discurso en torno al poder de las mujeres, aproximaciones al ensayo y la narrativa sobre lo Divino Femenino y sus repercusiones en España; Universidade de Alicante;

*Hernando Gonzalo Almudena, “Sexo, Género y Poder. Breve reflexión sobre algunos conceptos manejados en la Arqueologia de Género”
em Angie Simonis, La Diosa: un discurso en torno al poder de las mujeres, aproximaciones al ensayo y la narrativa sobre lo Divino Femenino y sus repercusiones en España; Universidade de Alicante; 2012
* EXCERTOS  retirados  no blog O ETERNO FEMININO OU A ANULAÇÃO DA MULHER REAL - in a Deusa no coração da Mulher -  Etiquetas: ,   de Luiza Frazão

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