A MULHER É UM ENTE EM SI MESMA
E NÃO DEVE DEPENDER DA SUA RELAÇÃO COM O HOMEM...
"A mulher não deve ser definida em relação ao homem. Esta consciência assenta tanto a nossa luta como a nossa liberdade.
O homem não é o modelo para adaptar o processo de autodescoberta da mulher.
A mulher é uma outra comparada com o homem. O homem é um outro comparado com a mulher. A igualdade é uma tentativa ideológica de escravizar mulheres aos mais altos níveis.
Identificar a mulher com o homem significa cancelar a última forma de libertação. Libertar-se para a mulher não significa aceitar a mesma vida do homem – o que é insuportável – mas expressar o seu próprio sentido da existência.
A mulher como sujeito não rejeita o homem como um sujeito, mas o recusa-o como um outro absoluto.
Recusa-o no seu papel autoritário na sociedade…"
Carla Lonzi declara que a concepção marxista ignora a mulher como oprimida e como portadora de futuro, porque se baseia em um esquema – a dialética do senhor e do escravo – que identifica uma luta interna ao mundo masculino, orientada para a conquista do poder. Esse esquema, de fato, não pode ser aplicado ao conflito entre os sexos por causa da impossibilidade de uma solução que elimine o outro. A recusa da dialética do senhor e do escravo como dispositivo explicativo da opressão sexista e do processo de sua superação traz algumas importantes consequências: – primeiramente, problematiza a assunção de uma postura antagonista por parte da mulher, sendo que as exigências que ela explicita não se desenvolvem em antítese ao mundo masculino, mas se movem para outro plano; – além disso, provoca o abandono do objetivo da tomada do poder. “O colocar-se da mulher não implica sua participação no poder masculino, mas um questionamento do próprio conceito de poder”. A recusa da luta pelo poder introduz um elemento de ruptura na continuidade do pensamento masculino e a possibilidade de superar o impasse no qual o mundo está paralisado.
"A cultura masculina opera em sentido colonial, subcultural: decide o que é o feminismo e declara-o como tal, mas cala-se sobre o resto; reconhece como válida apenas cada manifestação ambígua de mulheres em que esteja presente a sua aspiração cultural, e então dá cartas de alforria às que aceitam ser escritoras, pintoras, artistas, políticas, para com isso mesmo proteger os seus valores que são hierárquicos e as dividem em categoriais.
Tudo o que lhes parece existencialmente sem identidade resultante do exercício de um papel social, apaga-o. E assim apaga as mulheres e a sua consciência do que é autêntico nelas. Se o ponto firme é a consciência da autenticidade, para quê pedir uma outra linguagem a quem fala mesmo dessa consciência? Então, que linguagem você procura?
Entre as mulheres socialmente vale quem vale materialmente e quem vale existencialmente não vale socialmente ". *
Carla Lonzi
Carla Lonzi
in " Cala-te, na verdade fala. Diário de uma feminista " (escritos de revolta feminina, Milão 1978).
Via Cultura anti-patriarcale e anti-capitalista
* a tradução do texto não me pareceu muito clara e por isso substitui algumas palavras que não tinham sentido no contexto. rlp
A propósito de Óscares...
"O teste consiste em saber se num filme existe pelo menos uma cena em que duas mulheres (que tenham nomes) conversem uma com a outra sobre algo diferente de um homem. O teste de Bechdel-Wallace não é um padrão feminista - ele simplesmente identifica se as mulheres estão presentes, interagindo com outras mulheres e discutindo algo além de homens. Mas é eficaz justamente por causa de quantos filmes não atendem a esses critérios mínimos. Menos da metade dos indicados a Melhor Filme deste ano são aprovados no teste de Bechdel-Wallace. American Hustle (2013), por exemplo, passou no teste porque duas mulheresv conversam sobre... verniz das unhas!..."
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