O CARNAVAL...
"Sabe porque não tem fantasia de homem no carnaval? Sabe porque não tem blocos repletos de mulheres fantasiadas de homem, sabe porque não tem uma imensa massa de mulheres pedindo roupas a seus pais, irmãos, tios, primos pra se fantasiar de homem no carnaval? Porque "homem" não é ridículo. Não há em ser homem qualquer ridículo a ser debochado. Ser homem não é passível de deboche. Ser homem é uma condição de supremacia, de superioridade. Diferente de ser mulher, de ser homossexual, de ser negro."
Mulheres sentem obrigação de serem sensuais o tempo todo, é tão introjetado isso, que nem se dão conta. Observem o carnaval: enquanto a maioria dos homens usam fantasias confortáveis e divertidas, pura zuera, mulheres se fantasiam pra serem sexies. Pode ser qualquer tema o da fantasia - animal, super heroína, personagem de filme ou tv, qualquer coisa - ela será convertida em uma roupa sexy, com decote, apertada, muito justa e curta, marcando o corpo. Ser sexy é uma obrigação da mulher na nossa sociedade. Perpetuar a ideia de que estao disponíveis sexualmente é uma obrigação que é introjetada na cabeça e nos sentimentos como se isso fosse normal. E não é só no carnaval. Maquiagens emulam estado de excitação sexual (ou imagem pueril, que também é erotizado numa cultura pedófila como a nossa), roupas muito curtas, justas e decotadas tem função de deixar o corpo das mulheres em constante estado de oferecimento aos homens. Tudo é feito pra hipersexualizar e manter a imagem que o corpo da mulher está disponível e serve aos homens. E não adianta dizer que usa maquiagem, decote, roupa "sexy" pra si mesma, porque gosta, porque não é, não existe isso. Mulheres usam os signos patriarcais para serem aceitas, pra serem desejadas, pra receberem reconhecimento da sociedade patriarcal que lhes socializa pra crer que seu mais alto valor está em ser reconhecida e aceita por homens."
"O exemplo daquela que é considerada uma das "grandes conquistas" das mulheres na nossa sociedade: o trabalho - na verdade, a escravidão feminina ao trabalho, ao mundo do trabalho, que é ESTRUTURALMENTE MASCULINO. A "grande conquista" é apenas um rearranjo do capitalismo e do patriarcado sobre a escravidão da mulher ao homem, não um "privilégio". É uma falsa noção de privilégio que se aponta. Nao se libertam com o trabalho, ao contrário, se escravizam, são subordinadas, aos homens, aceitando e recebendo salários menores (por isso sao contratadas), trabalham mais, estao sujeitas ao assédio, sao desqualificadas em suas profissões, tem múltiplas jornadas, cumprindo, além do trabalho externo, o trabalho em casa, o trabalho doméstico, ou seja, sao violentadas, dominadas, submetidas por/em uma atividade que é apenas uma peça de sustentação do sistema patriarcal e capitalista, dominado por homens, assim como, por extensão, o mundo do trabalho também o é. Não há liberdade, não há autonomia, não há privilégio - a não ser de forma enganadora e aparente. É uma artimanha. E almejar isso como meta, como objetivo, como dado de revolução, almejar ter a condição social de "privilégio" da "cismulher", é um engano tão grande quanto abocanhar uma isca colorida que um homem balança com uma mão enquanto esconde a armadilha atrás das costas com a outra."
Marcio Gimenez
1 comentário:
Pena, serem tão poucos os homens lúcidos.
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Obrigada, RLPedro.
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