O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, setembro 17, 2020

PRINCIPIOS, FEMININO E MASCULINO


 

 

"O primeiro estágio do "retorno do feminino" é redescobrir essas qualidades femininas frequentemente reprimidas, distorcidas ou rejeitadas por nossa cultura patriarcal dominante. Chegamos a reconhecer como elas são centrais para qualquer trabalho de transformação, para o trabalho de renascimento que por sua própria natureza pertence ao feminino. Compreender a sabedoria e a natureza transformadora do feminino (em homens e mulheres) é essencial se quisermos nos mover individual e colectivamente para fora da terra devastada criada pela consciência e valores masculinos, se quisermos despertar para uma consciência mais profunda e natural de nossa própria natureza, bem como a de toda a vida. Por exemplo, podemos mais uma vez aprender a ouvir a Terra, sentir seus ritmos e batimentos cardíacos e voltar à "grande conversa" com o mundo natural. O feminino pode nos dar as ferramentas de que precisamos para começar o trabalho de transformação individual e global."

Adaptado de um novo prefácio de The Return of the Feminine and World Soul, de Llewellyn Vaughan-Lee

 

MULHERES CONSCIENTES DE SI

 

Creio que as mulheres conscientes de si, que fizeram um trabalho profundo consigo mesmas, e que se mantem fiéis ao Principio Feminino, aquelas que não se promoveram à custa do seu corpo nem da sua beleza ou sexo, em busca de dividendos, nem puseram o dinheiro e o seu ego acima dos valores comuns da Deusa e da Mulher, valores de união e sororidade, possam manter uma verticalidade e inteireza no seu conjunto e espero que não deixem que uma causa como o FEMININO SAGRADO se transforme numa bandeira de arremesso, uma banalidade comercial, ou uma forma de iludir e enganar as mulheres menos conscientes que se buscam valorizar e são desviadas para a promessa de uma união feliz com o masculino sagrado...criando novos mitos amorosos, praticas fraudulentas, repetindo os mesmos erros. Elas não só se desviam a si mesmas dos caminhos iniciáticos femininos como estão desviando as mulheres do trabalho de desbravar o seu caminho interior da mulher selvagem, sim, "Mulheres que correm com lobos" (e não com homens...) juntando-se ao homem que ela quer resgatar e que julga iniciar ou curar... Mas sem que ela própria se tenha resgatado e ser consciente de si ela não vai saber ajudar sem projectar também a sua ferida, a sua dependência ou carência. Mesmo lendo um bom autor sobre o feminino sagrado, e lendo o que ele diz tal como: "Compreender a sabedoria e a natureza transformadora do feminino (em homens e mulheres) " eu não sei se concordo inteiramente com ele nesse sentido, o de se trabalhar o feminino e o masculino um no outro, porque eles homens e mesmo a grande maioria das mulheres e apesar do  autor citado ser alguém integro, ignora a cisão da mulher e que a mulher não estando na posse do seu verdadeiro feminino à partida - uma vez que apenas exercita o seu hemisfério direito, o masculino  - tem de primeiro integrá-lo e esse é um trabalho individual e solitário e não a fazer em conjunto com o homem e é ai que reside a maior confusão das mulheres e homens que apelam a fusão do masculino e do feminino ou de se trabalhar em conjunto... Além disso penso que à mulher dos dias de hoje, isto em primeira instância, já não cabe ser essa metade apenas, complemento de um par romantizado ao longo dos tempos, e a não ser que ela mesma seja inteira e fiel a si mesma como ente, a partir de uma individualidade separada do par e se sinta autonoma, ela não vai poder ajudar o homem nem as outras mulheres. Inutil pensar que o homem a vai ajudar a ela no processo da sua descoberta interior... quando foi ele quem mais a afastou de si para o poder servir a ele... Assim, o par amoroso, tal como a busca do amor do outro, nada tem a ver com o processo de descoberta da mulher selvagem, porque além de ser um aspecto instintivo e de cariz obviamente sexual, faz parte da sujeição da mulher ao macho, que como escolha de vida, pode ser um designio seu, ou um objectivo de vida de uma mulher que quer servir o Pai e o filho. Mas esse não é o objectivo do feminino sagrado, nem do caminho da mulher em si na conquista da sua autonomia do macho e do patriarcado que a manteve prisioneira há centenas de anos, forçando-a a serví-lo de todas as maneiras e mesmo recentemente, depois do propalado feminismo e dita emancipação, a mulher nesses planos - emocional e sexual - não se libertou do seu jugo, apenas teve algumas vantagens financeiras com as quais afinal acabou por beneficiar os homens igualmente... A divisão - cisão - interior da mulher criada pelo patriarcado, que gera a sua fragmentação emocional e psiquica, que se reflecte na sua disputa psicologica e afectiva com a mãe pelo pai ou contra a outra mulher rival, leva-a de forma inconsciente a uma luta acerrima e permanente contra as outras mulheres embora possa estar muitas vezes disfarçada de "amizade" ou simpatia, mas onde existe sedução e controlo, dominio da outra através do jogo passional mesmo que não implique uma sexualidade explicita. Esta sedução exibição de si - sou a maior e a melhor, a que seduz e controla - continua a ser em muitas mulheres uma forma de defesa da sua ferida que projectam de forma insidiosa nas outras mulheres. É tipico da psique ferida, cair nestas armadilhas e elas são muitas... por isso alerto para que todas nós não esqueçamos qual é o nosso trabalho e o nosso propósito como Mulheres. Para que como diz Clarissa Pinkola Estees, não ferirmos @s outr@s no ponto em que nós mesmas estamos feridas... Não há duvida que antes de querer curar @ outr@ ou usar um Dom, temos de nos curar a nós mesmas primeiro e por isso ser consciente dos nossos movimentos atávicos padronizados e inconscientes é fundamental e sem um trabalho psicologico básico, tudo é ambiguo e duvidoso... SER MULHER hoje em dia requer uma independência cabal de todos esses jogos viciados da psique cindida da mulher e portanto fazer o seu caminho de encontro consigo mesma requer um grande recuo e sabedoria da alma... grande honestidade e sinceridade consigo própria, algo que só uma grande maturidade nos pode dar.

rosa leonor pedro

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