O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, setembro 16, 2020

UM PEQUENO ENSAIO: A DOR DOS HOMENS



 MUITAS AMIGAS INSISTEM PARA EU ESCREVER SOBRE OS HOMENS…


Bom, em primeiro lugar eu não posso discorrer sobre os homens em termos da sua natureza masculina e psiquica. Teria de ser homem para o fazer. Assim como estou farta de que sejam homens a escrever sobre as mulheres e acho erróneo, eu não iria escrever sobre o masculino em si. Mesmo admitindo o principio dos dois em Um, que todo o ser humano é composto de uma parte feminina e masculina (hemisfério esquerdo e hemisfério direito respectivamente ), eu não confundo "alhos com bugalhos"… sendo este um outro assunto bem mais vasto e complexo, que concerne a alquimia. 
Contudo poderei vir a escrever sobre como a cisão da mulher se reflecte no homem e do sofrimento que dai lhe advém, seja como marido, seja como filho ou mesmo pai, sendo esse facto uma espécie de ciclo vicioso: o homem Pater divide a mulher em duas espécies desde os primórdios do cristianismo e todo o homem à partida  foi obrigado a escolher entre uma mulher séria para casar e constituir família e a relegar a mulher livre e sensual e desassombrada, a mulher solteira e independente, para o campo da prostituição, mesmo que ela tivesse meios de subsistência, era sempre apelidada de rameira - puta vadia ou cabra. Uma mulher livre e bonita é sempre suspeita...
Ora acontece que essa mulher assim assumida e se for bonita ainda mais perigosa parece aos olhos do homem, pois parece que nascer mulher e bela é trágico, uma má sina  - é sem duvida uma ameaça para o pai ou marido ou irmão ou filho - o medo de ser conectado como o famoso "filho da puta e o cornudo" - e por isso este é o pior dos perigos para o homem e portanto uma mulher a abater... que é o que ele faz quando a mulher o abandona ou o trai…

Sim,  o homem não se livra facilmente da sua atracção pela mulher sensual e livre que o seduz e magnetiza...mas ele opta sempre - para casar - pela rapariga séria e insipida e bem comportada que não é nem bonita nem sensual porque lhe dá mais garantias de não ser afectado por esse drama. E assim nasce o pior das ofensas a qualquer homem que se despreza - "Puta que o pariu…filho de uma grande put… vai para a put que te pariu, ou ainda pior...vai para o "buraco" da tua mãe"- este é o tratamento infame que os homens se dão uns aos outros… e a Mulher Mãe…
Esta é uma história muito dolorosa para homens sensíveis e amantes da Mulher...homens que amam as suas mães...que conhecem o seu sofrimento; vejo como filhos hoje em dia sofrem com os divórcios das mães  com medo que pensem que as mães são put… e enfim, todo este peso acrescido ao peso de uma falsa masculinidade e a impossibilidade de manifestarem emoções, é realmente um drama masculino, para não falar da "dor de corno"...
Sem duvida que os homens tem todas essas feridas com a mãe...e há mães odiosas toxicas e narcisistas e incapazes de amor - claro que há e ai voltamos ao mesmo e a necessidade de valorizar e libertar a mulher desses estigmas restituindo-lhe toda a sua dignidade o que não é possível sem uma verdadeira consciência de si e do seu feminino sagrado. Todo um percurso que as mulheres tem de fazer indo ao mais fundo da sua psique e perceber o que ainda tem de andar antes de poderem curar o homem e esperar dele o par ideal, por mais que sonham e o desejem. Isso não vai acontecer antes que as mulheres despertem verdadeiramente para si e sejam unas e mulheres inteiras. Não é a Deusa que as vai curar...são elas mesmas e por esforço próprio que tem de se curar a si mesmas e deixar de projectar as suas feridas nas outras mulheres com quem rivalizam o tempo todo, mesmo diante da deusa… em defesa do seu culto...ou lutando por se serem as melhores as mais fiéis...etc.
Quanto aos homens que sentem a sua alma e vivem neste sistema eles devem abrir Portas e serem os guardiões em lugares em que as mulheres sofrem e onde deviam ser respeitadas. Em casa e na família, nos empregos. ...serem eles dentro do Sistema vigente a fazer a sua defesa e não virem-se refugiar no colo das boas mães e da Deusa...se são guerreiros, lutem pela mulher digna sendo um homem digno. Sendo um homem consciente também.

rosa leonor pedro

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