O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, junho 24, 2021

A DOENÇA DA AUTORIDADE


NÓS PORTUGUESES,

DIZEMOS MAL SÓ AS ESCONDIDAS...

"Sim, está tudo certo.
Está tudo perfeitamente certo.
O pior é que está tudo errado"


"... nós esperamos sempre pela voz do comando (...) sofremos da doença da Autoridade – acatar criaturas que ninguém sabe porque são acatadas, citar nomes que nenhuma valorização objectiva autentica como citáveis, seguir chefes que nenhum gesto de competência nomeou para responsabilidades da acção (...) nós compensamos a nossa rígida disciplina fundamentalmente por uma indisciplina superficial, de crianças que brincam à vida. Refilamos só de palavras. Dizemos mal só às escondidas. E somos invejosos, grosseiros e bárbaros, de nosso verdadeiro feitio, porque tais são as qualidades de toda a criatura que a disciplina moeu, em que a individualidade se atrofiou..."


[Fernando Pessoa m. 30 de Novembro 1935?)


A DITADURA SEM ROSTO...

"A diferença (entre a ditadura e o capitalismo) é que não é a ditadura como nós conhecemos. É o que eu chamo de «capitalismo autoritário». A ditadura tinha cara, e nós dizíamos é aquela, ou aqueles militares, o Hitler, o Franco, o Pinochet, mas agora não tem cara. E como não tem cara não sabemos contra quem lutar. Não há contra quem lutar. O mercado não tem cara, só tem nome. Está em toda a parte e não podemos identificá-lo, dizer «és tu». Mesmo as pessoas que lutaram contra a ditadura, entrando na democracia acham que não têm mais que lutar. E os problemas estão todos aí. O mercado pode tornar-se uma ditadura.

José Saramago, in 'O Globo (1999)'


NOTA A MARGEM:

NÃO, Infelizmente não acredito no Sistema social e politico nem na humanidade a nível "humanitário" (passo o pleonasmo), pois o que predomina nos nossos dias não é o ideal ético nem a consciência individual, ou sequer uma consciência cívica, mas apenas dominam os interesses pessoais e os egos inflacionados, os tráficos de influências, sobretudo o imperativo do horror exigido pelas audiências televisivas e toda a corrupção económica por detrás do caos - e pergunto: haverá ainda algum reduto de honestidade humana e social por detrás de tanta loucura?
Não. Não creio - a corrupção é global e apenas alguns e poucos seres humanos têm essa consciência ...

RLP

1 comentário:

Vânia Jones disse...

E o sofrimento que traz essa consciência.