"Encontrei-o uma vez ao pé de Jerusalém e ainda o tenho assim no coração. (...) Falou-me, como aos outros que estavam e, eu vos digo sem que tenhais que crer-me, tudo em mim se tornou a mãe de todo o mundo. O que ele disse não sei o que era, mas fiquei sentindo comigo que todos somos como irmãos pequenos e que somos como mendigos que se encontram por acaso na casa da estrada onde os ventos sopram e se abrigam, abrigando-nos juntos contra o temporal do mundo e do destino.
Minha mãe, como minha mãe, amava-me, mas este falava-me dum modo que eu vi que ela não me amava de todo. Senti-me como a criança que quer subir para o colo, e chora no chão com os braços estendidos.
Porque este homem era mulher na maneira de me falar pois parecia nossa mãe melhor; e era homem porque falava como mestre; e sempre no seu olhar haverá aquele outro que nos via"
FERNANDO PESSOA --INÉDITO
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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