O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 10, 2002



EU QUERIA SER MULHER

Eu queria ser mulher para me poder estender
Ao lado dos meus amigos, nas “banquettes” dos cafés.
Eu queria ser mulher para poder estender
Pó de arroz pele meu rosto, diante de todos no café.


Eu queria ser mulher para não Ter que pensar na vida
E conhecer muitos velhos a quem pedir dinheiro --
Eu queria ser para passar o dia inteiro
A falar de modas e a fazer “potins” -- muito entretida.


Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios
E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar --
Eu queria ser mulher para que me fossem bem estes enleios,
Que num homem, francamente, não se pode desculpar.


Eu queria ser mulher para Ter muitos amantes
E enganá-los a todos -- mesmo o predilecto --
Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto,
Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes...


Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse,
Eu queria ser mulher para me poder recusar....

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(Poema inacabado de Mário Sá-Carneiro enviado a Fernando Pessoa)



Esta mulher que o poeta queria ser eu não queria!
Também não sou mulher que queira ser como o poeta...nem gostava nada de ser o amante louro e esbelto nem o rapaz gordo e feio...e também não, não quero estender-me nas banquettes do café nem pôr pó de arroz no rosto diante de todos, nem pedir dinheiro a velhos “amigos”, nem quero que me olhem e se excitem...
Em 1916 o poeta era só poeta e como homem não se perdoava estes enleios, ou devaneios, mas hoje em dia, temo que os “poetas” todos queiram só mulheres assim... e já não sejam poetas!
E os que há não creiam em Musas e odeiam as mulheres que há.
Entre a mulher que o poeta quer ser e a mulher que o poeta inventa, onde fica a mulher verdadeira, aquela que não é uma coisa nem outra?
Entre a poetisa que quer um Deus e o poeta que quer ser uma Meretriz, qual a diferença neste desencontro entre homens e mulheres, nesta eterna luta entre deuses e deusas poetas e musas e poetisas?
Afinal de contas não era mais fácil os dois serem UM e iguais entre si, nem machos nem fêmeas? Isto é, alquimizando os dois em um e ser Andrógino...Voltar à origem: SER O ANJO que não tem sexo! TODOS DEUSES, SIM, na terra no céu ou no Olimpo! Cada um de nós...


O amor de um homem? -- Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? -- Quando eu sonho o amor de um Deus!...


FLORBELA ESPANCA

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