UM HOMEM LÚCIDO:
JOSÉ SARAMAGO
dn.Tema “ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ”
excertos da entrevista do DN por A.M.G.
“SE NÃO HOUVER UMA REVOLUÇÃO DAS CONSCIÊNCIAS, A HUMANIDADE ESTARÁ PERDIDA”
“Comecemos a uivar...”
“Para Saramago, as grandes massas estão subjugadas, não por um poder ideológico, mas por um fenómeno de globalização económica. O modelo masculino do mundo falhou e as mulheres ainda não foram postas á prova.”
- QUE FUTURO PARA O HOMEM?
- Se não houver uma revolução de consciências, se as pessoas não gritarem: “Não aceito ser apenas aquilo que querem fazer de mim”, ou não recusarem ser um elemento de uma massa que se move sem consciência de si própria está perdida. Não se trata de regressar ao individualismo, mas há que reencontrar o indivíduo. Esse , o nosso grande obstáculo: reencontrar o indivíduo num tempo em que se pretende que ele seja menos do que poderia ser. Damo-nos conta que o mundo se tornou num gigantesco espectáculo. Já não há diferença entre actores e espectadores. Provavelmente a minha visão é negra.”
(...)
“É provável que haja no homem que sou uma componente feminina, sem que isso retire alguma coisa `a minha masculinidade. Talvez se tenha de levar em conta outra forma de ilusão que é pensar: como seria se o Poder se estivesse nas mãos da população feminina? Seria tudo diferente? Mas estamos a falar de um sonho, sabemos que , quando as mulheres chegam ao Poder, seguem modelos masculinos. Não foram, porém, postas à prova. O modelo dos homens, a meu ver falhou.”
“Temos de começar a uivar, comecemos a uivar”
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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