Por que reparaste em mim e me fizeste deixar o fresco refúgio da nossa vida comum?
É sagrado o amor que se cala. Ele brilha como uma jóia na sombra secreta do coração. À luz indiscreta do dia, ele se turva lamentavelmente.
Ah! Dilaceraste o invólucro do meu coração e arrebataste ao seu mistério o meu amor, destruindo para sempre a sombra preciosa onde ele ocultara o seu ninho.
As minhas companheiras continuam as mesmas.
Ninguém penetrou na intimidade do seu ser; e elas não conhecem ainda o seu próprio segredo.
Elas sorriem e choram, acendem as suas candeias e vão buscar água no rio.
Eu pensei que o meu amor nunca haveria de sofrer a trêmula vergonha do abandono.
Mas tu desvias o teu rosto.
Sim, à tua frente o caminho se abre, livre: mas tu me cortaste a retirada e me deixaste nua diante do mundo que me olha fixamente, dia e noite, com os seus olhos sem pálpebras.
para que não seja uma morte, e sim o cumprimento
de um destino.
Vivamos da saudade do nosso amor, transformando em
canções a nossa dor.
Termine aquela fuga alta pelo céu num quieto fechar de
asas sobre o ninho.
Seja doce como a flor que se abre de noite o nosso derradeiro aperto-de-mão.
Espera um pouco mais, lindo fim do nosso amor: e dize-nos, no silêncio, as tuas últimas palavras!
Eu me inclino e levanto a minha lâmpada para alumiar o teu caminho.
R. Tagore
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