Tenho as opiniões mais desencontradas, as crenças mais diversas. É que nunca penso, nem falo, nem ajo... Pensa, fala, age por mim sempre um sonho qualquer meu, em que me encarno de momento. Vou a falar e falo eu-outro. De meu, só sinto uma incapacidade enorme, um vácuo imenso, uma incompetência ante tudo quanto é a vida. Não sei os gestos a acto nenhum real, []
Nunca aprendi a existir.
Tudo que quero consigo, logo que seja dentro de mim.
Quero que a leitura deste livro vos deixe a impressão de tédio continuado em pesadelo voluptuoso.
O que antes era moral, é estético hoje para nós... O que era social é hoje individual...
Para quê olhar para os crepúsculos se tenho em mim milhares de crepúsculos diversos -alguns dos quais que o não são - e se, além de os olhar dentro de mim, eu próprio os sou, por dentro?
Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego, ed. Richard Zenith.
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