O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, março 25, 2005

TAL COMO AS DEUSAS FORAM ENGOLIDAS PELOS DEUSES HÁ MILHARES DE ANOS, E FORAM DEPOIS ENGOLIDAS PELOS PADRES, AS DEUSAS E SACERDOTISAS E RITOS, SÃO-NO HOJE AS MULHERES PELAS IDEOLOGIAS E PARTIDOS, NAS SUAS CAPELINHAS DE BAIRRO, MISSAS E DOGMAS, SEJAM ELES PROVENIENTES DO CATOLICISMO SEJAM DO COMUNISMO ORTODOXO OU NO FACHISMO...
A OUTRA VARIANTE É SEREM “COMIDAS” POR PARVAS EM TODOS OS SENTIDOS...


QUÃO LONGE ESTAMOS DA GRANDE DEUSA DOS SUMÉRIOS

“Na verdade, muito do que Inana simbolizava para os sumérios foi exilado desde aquela época: muitas das qualidades ostentadas pelas deusas do mundo superior foram dessacralizadas no Ocidente, assumidas por divindades masculinas, (...) É por isso que a maioria das deusas gregas foram engolidas pelos pais e a deusa hebraica foi despotenciada. Restam-nas apenas deusas minimizadas ou restritas apenas a determinados aspectos. E muitos dos poderes antes apresentados pela Deusa perderam a conexão com a vida da mulher: o feminino apaixonadamente erótico e lúdico; o feminino multifacetado dotado de vontade própria, ambicioso, real.” *

A Mulher dominada, sem vontade própria, sujeita à vontade do homem durante séculos, ainda hoje não se destacou dessa subordinação de forma consciente e lúcida e mantém inconscientemente a mesma subordinação às autoridades vigentes dentro da ordem patriarcal, sejam elas quais forem, e ainda que se julgue na aparência “moderna” e liberta, insere-se na sociedade machista muitas vezes ou apenas mascarada de uma FALSA integração social e política, usando o discurso masculiino e os seus valores de dominação, não passando de mero objecto de manipulação política por parte dos chefes e os seus problemas, como o é no caso da despenalização do aborto, a legalização da prostituição ou outro qualquer.


AS MULHERES USADAS COMO BANDEIRA NA LUTA DE PARTIDOS:
Como dizia e se denuncia um colunista da Capital, “Não se percebe qual a pressa dos partidos de esquerda de fazer já um referendo (sobre o aborto), porque o país tem necessidades mais prementes para resolver”... sem dúvida que tem, mas à partido o País são SÓ os Homens e é de pouca monta para eles as mulheres serem usadas, descartadas, violadas ou espancadas e mesmo presas...Elas não são o País...são só os objectos que eles usam há milhares de anos para seu serviço, aglutinadas ás suas causas...e porque as suas mulheres as suas mães e as suas irmãs, têm dinheiro para o fazer o que “deus quiser”...eles não querem saber das “mulheres do povo”...as mulheres anónimas e ignoradas de todos!

POR ISSO OS HOMENS DA DIREITA VÃO VOTAR CONTRA A DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO, CONTRA AS MULHERES POBRES, VÍTIMAS DA MISÉRIA QUE ELES IGNORAM!

Mas justamente as mulheres “no poder” também têm culpa deste estado de coisas e da sua invisibilidade no Governo ou onde quer que se encontrem. Como me contava há dias uma amiga que pediu ajuda a uma advogada da família por sofrer de violência doméstica esta lhe disse que isso era natural em família e não devia fazer nada...
São assim as nossas advogadas (do diabo?) e as nossas deputadas, polícias médicas?...

MULHERES RACIONAIS, SÓ “MACHAS”!

Como vi e ouvi no outro dia num debate na Sic as mulheres representantes dos vários partidos - cada uma delas a mais alienada da sua verdadeira essência - discutindo apenas os seus problemas de “integração” e participação social no programa do Governo e apesar da sofisticação dos "conteudos" a confusão era total no que concerne as prioridades efectivas que começam na consciência do seu ser individual e não do papel da mulher apenas como mãe ou política, mas sim do seu Ser em si “sem papel”...
O SEU SELF...
... A saber a sua verdadeira natureza, a sua sensibilidade e a sua liberdade. Em suma, a diferença real entre um e outro sexo independentemente das funções de cada um. Era isso que era importante as mulheres perceberem...
E assim na maior ignorância e rejeição de uma "essência feminina", a deputada comunista, Odete Santos, fazia gáudio da sua exclusiva racionalidade negando toda e qualquer sensibilidade à mulher de forma absolutamente primária e coerentemente marxista! Nem deus nem mulheres ao cimo da terra...só Homens, todos iguais!
E é esse poder do masculino, inclusive nas mulheres e defendida por elas que originou o “machismo” no seu domínio exclusivo do mundo e que trouxe as guerras e a violência, o caos e a destruição paulatina da natureza . Digo-vos mesmo: e a seca...


“onde o sol brilha sempre, há um deserto”. As florestas secam, os rios secam, o solo estala. A terra morre.”M. Starbird

A perda de identidade ou o desvio da verdadeira natureza da mulher e a sua divisão ou fragmentação em “santa” (virgem mãe) ou a prostituta (Maria Madalena),pela Igreja e por exclusão do Feminino Sagrado, fez da mulher um mero objecto ou instrumento ao serviço exclusivo da família e da sociedade, sem autonomia pessoal nem consciênia individual, uma vez que continua a obedecer e a servir os conceitos sobre ela estipulados há muito poder pelo patriarcal. Mesmo na política e sobretudo na política é clara e notória a não identificação com a sua natureza profunda e a recusa da sua sensibilidade caracterizada por uma inteligência mais emocional do que a racional, ao contrário justamente do homem.

Os problemas das mulheres são hoje olhados e debatidos como apenas de ordem de trabalho, de procriação e de sexualidade, entre a despenalização do aborto ou as creches e reformas sociais para a mulher (a mãe ou a puta?) sem qualquer consciência dos problemas de base que as aflige, enquanto ser humano que sente e pensa independentemente das suas funções, tal como um homem é olhado, para lá da sua sexualidade e da sua função de procriadora/o ou como utente/vítima da prostituição e as suas sequelas.


r.l.p.

* Esther Harding – Os Mistérios da Mulher
Todas as imagens são de quadros de Lena Gal

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