O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, março 31, 2005

O EVANGELHO DE MARIA MADALENA

DA HUMANIDADE DE JESUS -
Segundo a Igreja: O Homem é Divino e a Mulher o Diabo...


O que pensam os teólogos livres do jugo romano,
da questão tão contestada pelo Vaticano da possível relação humana
de Jesus com Maria Madalena:


“A questão não é de saber se Jesus se casou ou não (ainda mais uma vez no sentido em que o entendemos hoje em dia). Que interesse tem isso? A questão é de saber se Jesus era realmente humano, de uma humanidade sexuada, normal, capaz de intimidade e de preferência.

Segundo um adágio antigo: “ Tudo o que não é assumido não é salvo”.

Se Jesus, considerado como o Messias, como Cristo (Christos, tradução grega do hebraico Messiah), não assume a sua sexualidade, esta não será salva, Ele não é mais Salvador no sentido pleno do termo, e torna-se uma lógica de morte e não de vida que se irá instalar no cristianismo - particularmente no cristianismo romano-ocidental:

“O Cristo não assumiu a sua sexualidade,
Portanto a sexualidade não é “salva”,
Assim a sexualidade torna-se má,
do mesmo modo, assumir a sexualidade pode ser degradante
E assim tornar-nos culpados”.

O instrumento co-criador da vida que nos faz existir “em relação”, “à imagem e semelhança de Deus”, torna-se logicamente um instrumento de morte.
Estaríamos nós no Ocidente, através da nossa culpabilidade inconsciente e colectiva, em vias de sofrer as consequências duma tal lógica?


O Evangelho de Maria (Madalena) , tal como o Evangelho de João e de Philippe, lembram-nos que Jesus era capaz de intimidade com uma mulher. Essa intimidade não era apenas carnal, era também afectiva, intelectual e espiritual; trata-se mesmo de salvar, quer dizer, tornar livre o ser humano na sua totalidade, e isso introduzindo consciência e amor em todas as dimensões do seu ser. O Evangelho de Maria Madalena, lembrando a humanidade de Jesus na Sua dimensão sexual, não retira nada à sua dimensão espiritual, “pneumática” ou divina.”


In L’ ENVANGILE DE MARIE (Évangile copte du II siècle traduit e commenté par)
JEAN-YVES LELOUP - teólogo ortodoxo.

Albin Michel

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