O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, junho 10, 2005

“Uma amante querida que nos deixa expulsa-nos de um útero. É como se nascessemos para o irreconhecível. Uma impossibilidade de identificação que gera o ódio pelas formas em que tropeçamos. É verdade. Quando me deixaste, não sofri. Odiei como um homem que vê a sua solidão multiplicada. Só depois de beber todo o ódio é que senti o amargor do sofrimento. Dantes o bem e o mal eram-me totalmente estranhos. Considerava-os detritos religiosos que uma vez aceites nos impunham a mais passiva forma de existir. Quantas vezes me achei profundamente mau praticando uma boa acção ou o contrário. Isto convencia-me de que a malvadez e a bondade eram o inextrincável miolo dos nossos actos. Reconhece-lo, era existir activamente. Não concebia quer o mal quer o bem como sentidos únicos. Oh! Para isso faltava-me ousar. A minha ousadia era puramente intelectual, ou seja, a cobardia de viver. Eis porque os assassinos são medonhamente poéticos e jamais poetas. “(...)

In A MADONA de Natália Correia

Sem comentários: