O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, dezembro 21, 2006

AS CAROLINAS SALGADO E OUTRAS...

"O grande motivo essencial dos Mistérios de Elêusis e, portanto de todos os mistérios matriarcais é a heuresis, a redescoberta de Core por Deméter, a reunião da mãe e da filha."

"Estou num momento particularmente crítico em relação à minha mãe...e não consigo aceitar determinadas coisas...não sei perdoar...às vezes isso me faz confusão porque eu acredito na Deusa, eu amo as mulheres, mas não todas e a primeira na lista é a minha mãe, cujo útero me gerou mas nem sequer por isso lhe sou grata...ela só precisava ficar grávida para obrigar um homem ao casamento... nunca me amou, nem me amamentou, sempre me tratou mal, sempre com violências físicas e psicológicas, tenho muitas lembranças ruins de maltratos e humilhações, mas não tenho uma única recordação de um abraço sincero ou de um gesto de apoio e carinho...Ela é má... perversa, manipuladora, mentirosa, ciumenta, invejosa... não vejo como resolver esse conflito...por isso é que insisto que determinadas questões não são apenas uma questão de gênero, afinal em várias reencarnações somos homens ou mulheres, ou animais, ou plantas ou minerais...então como ultrapassar isso...sei que ela é uma infeliz, não se ama,não se conhece, mas não quero ajudá-la


Minha amiga:

Temos de óbviamente conversar sobre esse assunto pessoalmente! Mas antes disso queria dizer-lhe, pelo muito que o seu relato me tocou como exemplo claro da mulher típica comum, que é a sua mãe, vítima de uma sociedade que criou muitas mulheres assim; mulheres sobreviventes que não podem amar ninguém pois são crianças quase mutiladas emocionalmente. Essas mulheres tanto podem ser ricas como pobres, apesar das pobres sofrerem em acréscimo as dificuladades económicas, mas todas as mulheres sendo anuladas e desrespeitadas na sua essência, “que não se amam nem se conhecem”, acabam por se tornar “sobreviventes”. Elas aprendem as manhas e a frieza, o cálculo a perfídia, e como você diz:

“Ela é má... perversa, manipuladora, mentirosa, ciumenta, invejosa”…

Sim, a mulher comum, tirando algumas mulheres fantásticas, por assim dizer, ou digamos 80% das mulheres são assim e tudo isso e muito mais…É dessa mulher que também os homens se queixam sem saber que foram eles que a tornaram assim e que a mulher é o sub-produto de um sub-produto que os homens são de uma sociedade machista e misógina…
Um mundo onde se não ama nem respeita a Mulher e a Mãe...

Um dia porém há-de compreendê-la e querer ajudá-la. Só o não pode fazer agora porque é a sua criança ferida que pede ainda o carinho dela e a ajuda da mãe que não teve...

Mas justamente, você sabe o que ela sofreu com a mãe dela?

É esta a grande ironia, que as mulheres em vez de se unirem e amarem se começam por odiar e desprezar umas às outras...e começa tantas vezes com a filha e a mãe, ou vice-versa. Começam por se disputar por causa do pai ou do irmão...Foi isso que o patriarcalismo fez muito bem feito ao longo dos séculos. Destruiu a união da Mãe e da Filha dos Antigos Mistérios (Eleusianos) para fazer valer e prevalecer só a autoridade do Pai...E foi desse domínio e abuso que a mulher aprendeu a defender-se como o prisioneiro no campo de concentração ou os reféns de uma qualquer guerra…

Parece axagero meu mas não é. Por exemplo, eu ontem vi parte de um filme sobre o abuso sexual de que as mulheres são vítimas, e ao denunciarem o criminoso que era polícia, quer os colegas, quer o tribunal e os juízes e todos os outros homens e mulheres o que fizeram foi defender o pobre do homem que acabava por ceder à tentação da eterna pecadora, a mulher. E não era apenas uma mulher a queixar-se, eram pelo menos quatro...e isso não pesava nada!
Pode crer que esse é o pensamento-sentimento dos homens ainda hoje e a sua atitude de defesa dos homens por mais evoluídos que sejam juizes ou ministros catedráticos patrões ou maridos, é o que no fundo eles pensam das mulheres: que elas estão sempre prontas para os seduzir e a sua índole é sempre perversa. Assim pensava o Papa anterior a este, assim sorriem os ministros para si mesmos, assim pensam os homens mais instruídos e correntemente as mulheres são para eles apenas as mulheres abandonadas e ressaibiadas, as (suas) mulheres frustradas ou as amantes e prostitutas que usam e deitam fora…Asim pensam também as mulheres dos homens instruídos...
Se aparece uma Carolina Salgado, logo à partida é apontada e desvalorizada por ter sido conhecida numa boite de alterne, a escrever um livro denunciando os abuso e violências de um homem “importante”, logo um papa do futebol, é imediatamente ridiculrizada e o seu livro considerando baixo (li qualquer coisa como associando o livro a papel higiénico) e todos os homens solidários entre si, a desprezam…jornalistas e deputados, os senhores “sérios” da política, todos os bandidos e mafiosos com capa de presidentes de qualquer câmara afinal …
E se os media lhe dão tempo de antena é porque gostam de escândalos para vender audiências e porque o futebol é a única moral social praticada no País…

Sim, o livro esgota-se pelo voyarismo nacional que a televisão alimenta de miséria e ignorância. As mulheres são só as artistas do seu circo. Eles são os sempre distintos domadores de elefantes…

rosa leonor pedro

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