O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, dezembro 14, 2006

“Desde que o mundo é mundo, nós, mulheres, somos vítimas da ditadura da beleza. Era de se esperar que, com os movimentos sociais e a independência que adquirimos ao longo do século passado, estivéssemos livres para, finalmente!, conviver em paz com nossos corpos; mas, ao contrário, nunca estivemos expostas a tal bombardeio de imagens artificiais e tipos físicos inexistentes. “
CORA RONAI

GALLIANO:
O PALHAÇO QUE TRANSFORMA AS MULHERES EM PALHAÇOS...




A DITADURA DA "BELEZA"...

“O massacre da auto-estima”

(…)
Do alto desses tempos supostamente "civilizados", olhamos com desdém para as torturas a que eram, ou ainda são, submetidas as mulheres em sociedades antigas e/ou "primitivas": os espartilhos vitorianos e os pés deformados da China foram apropriadamente lembrados há dias, aqui mesmo no GLOBO, na página sete, por Leonardo Drummond -- que não se esqueceu de contrapô-los às atuais costelas cirurgicamente removidas, que tanta gente considera uma forma "normal" de afinar a silhueta.
A isso se poderia acrescentar um vasto catálogo de horrores contemporâneos, das argolas que continuam a esticar os pescoços das mulheres de Burma às pernas serradas e espichadas das chinesas que, com isso, ficam mais altas e "atraentes", tanto para os homens quanto para o mercado de trabalho.

É fácil percebermos que há algo errado em pessoas de resto normais, e eventualmente bonitas, que se submetem a cirurgias em que seus ossos são removidos ou serrados por razões puramente estéticas; chega a ser difícil acreditar que isso aconteça aqui, agora, num mundo cientificamente esclarecido. Mas a maioria das dietas a que se submetem tantas mulheres insatisfeitas com seus corpos e os remédios que tomam para se manterem magras não são menos prejudiciais do que os procedimentos cirúrgicos que nos horrorizam; nem é menos profundo o grau de infelicidade que as move a comportamentos tão destrutivos.

Muito pior do que o que se vê no corpo é o que vai pela alma, e que não se vê.

Esta trágica infelicidade não se restringe mais a umas poucas pessoas, mas se espalha, como praga, por toda a sociedade. Num mundo cada vez mais obeso, a imagem da beleza é, paradoxalmente, cada vez mais esquálida. A própria idéia do que é beleza, aliás, anda tão inequivocamente atrelada a pele e ossos que já não se concebe beleza acima do peso "ideal". Isso seria compreensível, até certo ponto, em termos de saúde -- se este magro "bonito" não estivesse muito, mas muito além do que a imensa maioria das mulheres pode alcançar naturalmente. E não fosse doentio.

(…)
EXCERTO DE ARTIGO CORA RONAI
(O Globo, Segundo Caderno, 23.11.2006)

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