O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, abril 28, 2007

Eu Sou uma Mulher




Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.

Os homens vertem sangue por doença sangria ou por punhal cravado, rubra urgência a estancar trancar no escuro emaranhado das artérias.

Em nós o sangue aflora como fonte no côncavo do corpo olho-d'água escarlate encharcado cetim que escorre em fio.

Nosso sangue se dá de mão beijada se entrega ao tempo como chuva ou vento.
O sangue masculino tinge as armas e o mar empapa o chão dos campos de batalha respinga nas bandeiras mancha a história.

O nosso vai colhido em brancos panos escorre sobre as coxas benze o leito manso sangrar sem grito que anuncia a ciranda da fêmea.

Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar. Pois há um sangue que corre para a Morte. E o nosso que se entrega para a Lua.


Marina Colasanti

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