"Se a julgarmos pelos tiranos que produziu, a nossa época poderá ter sido tudo menos mediocre. Para descobrirmos outros semelhantes, teríamos que remontar ao Império Romano ou às invasões mongóis.
Muito mais do que a Estaline é a Hitler que cabe o mérito de ter dado o tom ao século. Hitler é importante, menos por si próprio do que pelo que anuncia, esboço do nosso porvir, arauto de um advento sombrio e de uma história cósmica, percursor desse déspota à escala dos continentes, que triunfará com a unificação do mundo através da ciência, destinada, não a libertar-nos, mas a submeter-nos.
Trata-se de qualquer coisa que se soube autrora; sabê-lo-emos de novo um dia. Nascemos para existir, não para conhecer; para ser, não para nos afirmarmos. O saber, depois de ter irritado e estimulado o nosso apetite de poder, conduzir-nos-á inexoravelmente à perda.
O Génesis apercebeu-se melhor dessa condição do que foram capazes de fazê-lo os nossos sonhos e os nossos sistemas."
in HISTÓRIA E UTOPIA Emile Cioran
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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