“Não há escritor mais comprometido do que aquele que jura fidelidade a si mesmo, que aquele que se compromete consigo mesmo. A fidelidade aos outros, se não coincide, uma moeda com a outra, com a violenta e própria fidelidade ao que dita a nossa consciência, não é manha de maior respeito do que a disciplina - ou os reflexos condicionados - do cavalo de circo.”
Camilo José Cenha
"Senta-te diante da folha de papel e escreve. Escrever o quê? Não perguntes. Os crentes têm as suas horas de orar, mesmo não estando inclinados para isso. Concentram-se, fazem um esforço de contensão beata e lá conseguem. Esperam a graça e às vezes ela vem. Escrever é orar sem um deus para a oração. Porque o poder da divindade não passa apenas pela crença e é aí apenas uma modalidade de a fazer existir. Ela existe para os que não crêem, como expressão do sagrado sem divindade que a preencha. Como é que outros escrevem em agnosticismo da sensibilidade? Decerto eles o fazem sendo crentes como os crentes pelo acto extremo de o manifestarem. Eles captarão assim o poder da transfiguração e do incognoscível na execução fria do acto em que isso deveria ser. Escreve e não perguntes. Escreve para te doeres disso, de não saberes. E já houve resposta bastante."
Vergílio Ferreira, in "Pensar"
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