O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, maio 02, 2007

DOIS OLHARES…


"Nós não sabemos nada. Que cada um se reduza à sua insignificância. Quando vejo as minhas plantas a despontar na Primavera eu fico tranquilo porque as coisas continuam. Este ano na minha varanda tudo rebentou: a figueira, a romanzeira, o pessegueiro, o castanheiro, a oliveira e a bungavília, além das outras plantas de folhas perenes, tudo parece estar bem e com isso me tranquilizo. Porquê esta tentação se a vida é efémera? Nada melhor que dialogar com uma árvore para combater uma dor de cabeça. Perceber que a árvore ali está serena e aceitando tudo com toda a força de que é capaz.

Ver televisão é perder a visão das coisas que se podem ver mas nem sempre. O mar nada me diz além de me afogar os pensamentos. Sou um homem do interior e sei que vogamos no espaço, sentados num imenso pedregulho e daqui queremos fazer cátedra. É preciso aceitar as coisas como elas são. A causa de toda a infelicidade reside no facto de não aceitarmos as coisas como elas são e nos projectarmos numa ilusão religiosa.

JCM Garimpeiro Email Homepage 27-04-2007

“E caíam, uma após outra, todas as árvores do quintal, os limoeiros, as nogueiras, os salgueiros e toda a família vegetal do velho Vicente, que sentia ir-se-lhe com ela a alma. Memórias de infância, sonhos de juventude e reminiscências de velho, como aves invisíveis, ocultas nas copas daquelas árvores, surgiam agora, espavoridas e desnorteadas, a procurar o refúgio que não encontravam ..."

" Aproveitem pois os últimos anos de paisagem natural que ainda restam e depois deixem partir “como aves invisíveis, ocultas nas copas daquelas árvores” a sua memória póstuma.

(P.P.No Público de 24 de Março de 2007)

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