O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 06, 2015

OS ARQUÉTIPOS DA DEUSA...


 O ESPECTRO DO FEMININO:

DO SAGRADO AO PROFANO



“(…) S. traz, em suas manifestações conscientes, clara identificação com o arquétipo de Deméter, a deusa maternal. Em contrapartida, em seus sonhos, aparece o arquétipo de Afrodite, a deusa do amor. Tal aspecto é confirmado pelo fato de S. manifestar grandes dificuldades em conciliar seus impulsos maternais e eróticos. Da análise dos sonhos e discurso da paciente, estabeleceu-se com clareza a díade Deméter-Afrodite, Lilith-Eva, reforçando a idéia da cisão do feminino em S. Segundo CORBETT (1990), o mesmo díptico aparece na mitologia cristã, entre a Virgem Maria e Maria Madalena. A Virgem Maria é a idealização da feminilidade, pessoa de absoluta pureza sobre a qual não há sombra de pecado. Sua primeira associação é com o filho, que é sacrificado; o papel de Maria como esposa e mulher é insignificante. No lado oposto, está Maria Madalena, o lado sexualizado da díade, como figura feminina com quem as mulheres podem se relacionar sem trair sua natureza essencial. Sua imagem, como o da prostituta sagrada, é capaz de encerrar todos os aspectos dinâmicos e transformadores do feminino - paixão, espiritualidade e prazer. Através dela, a Grande Deusa, vive no cristianismo. Da mesma maneira as mulheres do mundo patriarcal, as modernas Evas, frequentemente encontram sua natureza Lilith no espelho, isto é, na sua reflexão narcísica. A mulher precisa ficar atenta a seus próprios valores naturais, unir Lilith a Eva, e viver o eterno ciclo de alternância entre estes opostos. Esta divisão entre o sagrado consciente (identificado com Deméter, Eva e a Virgem Maria) e o profano inconsciente (representado por Afrodite, Lilith e Maria Madalena), tornam o feminino consciente de S. unilateral e portanto neurótico. (…)

Pela imensa dificuldade de integrar seu feminino, o consciente da paciente tende a chamar para si o rapto e a violência pois, aquilo de que ela se defende e que constitui o oposto de sua atitude consciente, não lhe dará sossego e a perturbará até que seja aceito.
Segundo JUNG (1995), a única pessoa que escapa da lei sinistra da enantiodromia* é aquela que sabe como se afastar do inconsciente, não reprimindo-o - porque neste caso o inconsciente haverá de atacá-la pelas costas - mas, colocando-o claramente à sua frente, como aquilo que ela, a pessoa, não é. Esta atitude permitiria, por um lado, despojar o ego da falsa cobertura da persona, e por outro, do poder de sugestão das imagens primordiais, o que para Jung representa o objetivo do processo de individuação. A moralidade judaico-cristã tem, de forma direta ou indireta, influenciado poderosamente as atitudes com relação ao feminino. Esta visão convencional relega o feminino ao exílio, negando o instinto, o sentimento e dissocia a maternidade da sexualidade. Este legado milenar de cisão interna toca indiscriminadamente a todas as mulheres, destituindo-lhes de identidade como tal. Mulheres eternamente em busca de si mesmas, com a única e suprema pretensão de serem apenas o que lhes é inalienável por herança genética, por direito e por justiça: serem mulheres na mais profunda e plena acepção da palavra.”


*Enantiodromia é um conceito introduzido na psicologia pelo psiquiatra Carl Gustav Jung no qual a superabundância de qualquer 'força' inevitavelmente produz o oposto do que é expectativado. É de certo modo equivalente ao princípio de estabilidade no mundo natural, onde qualquer extremo vem a ser incompatível com a idéia de equilíbrio, tal como esse conceito é entendido.
Jung o utilizou particularmente para se referir à ação inconsciente, conflitante com os desígnios da mente consciente. ("Aspectos da Masculinidade",capítulo 7). Wikipedia


Ana Carolina Silva Freire Elisa Maria Chab Billwiller
Márcia Helena Mendonça
 
Copiado de A DEUSA NO CORAÇÃO DA MULHER de Luiza Frazão
 

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