O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, outubro 10, 2015

UM CÁLCULO ERRADO..



"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que,  somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as  incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter  tido carinho, pensei que amar é fácil porque eu não quis o amor  solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a  transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito,  meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É  porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu  amaria – e não o que é. É porque ainda sou eu mesma, e então o castigo  é amar um mundo que não é ele. É também porque me ofendo à toa. É  porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito  teimosa."

de Clarice Lispector,
in 'Felicidade Clandestina

Sem comentários: