O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, outubro 29, 2015

QUE AZAR

TUDO ISTO À LUPA...
 

TUDO ISTO ACONTECE A MULHER - e como pode a mulher acreditar que é emancipada nesta sociedade?


que azar
nascer mulher...
furar a orelha
usar cor de rosa
lavar a louça
limpar a casa
lavar a roupa
chegar na escola e ter vergonha
dos peitinhos que crescem
e o parente que espia atrás da porta e diz
não tenha vergonha deles
um sutiã com bojo para aumentá-los
um lápis preto no olho porque
as maravilhosas da televisão usam
e de repente é puta
porque beijou um menino na festinha americana
e no outro fim de semana beijou outro
e de repente está bebada
na cama de um sexo masculino
-Acho melhor a gente parar.
-Calma, deixa eu finalizar.
Primeiro namorado, levantou a mão para dar um soco, abaixou em seguida.
Ô delícia! Ô gostosa! Deixa eu meter nessa bucetinha.
e no transporte coletivo com o ônibus lotado roçam o pau na sua bunda.
e numa balada playboy passam a mão na sua bunda.
e aí o parceiro se recusa a usar camisinha, ela cede
menstruação atrasada, desespero, ansiedade, estresse,
enlouquece.
compra o remédio abortivo, a menstruação desce
o sangue? É sujo.
o corpo? É dela.
e o parente
-Você não vai se maquiar? Parece uma sapatão.
-E essa roupa? Parece uma mulamba.
-Passa um batom, bota um salto, se arruma, minha filha.
-Que homem vai te querer vestida desse jeito?
-Mulheres nojentas, essas que não se depilam.
-Você vai sozinha? É muito perigoso, você é mulher.
É retirada do estabelecimento por amamentar em público
ninguém mandou fazer, na hora foi gostoso não?
e num papo sobre sexo com as amigas descobre que
uma delas, aos 29 anos, nunca teve orgasmo
e que o abuso é calado
e que outra toma anticoncepcional
para que o parceiro não precise usar camisinha
porque hoje em dia as doses de hormônios são muito baixas
e é completamente seguro para saúde das mulheres
(disse o doutor)
e para o estado
ter você sob controle
e que tenha vergonha do seu corpo imperfeito
e que se afunde no salão de beleza, na academia e no shake
e que seja frágil, para não conseguir andar
e que consuma muito para não conseguir pensar
porque hoje em dia querem lhe roubar até o parto natural
porque o assunto veio a tona na mídia virtual
porque caiu no enem
porque as mulheres estão se unindo
porque a violência existe escancarada
porque está na hora de um basta
porque o assunto vai ser sempre tratado com desprezo e chacota
por machos-alfas que estão perdendo o posto e vão dizer:
-Machismo não existe!
-Feminismo para que? Bando de mal comidas.
e esquecem das próprias mães.
-
Texto de Caroline Lemes

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