O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, outubro 12, 2016

O RESSENTIMENTO



“Quem ventos semeia, colhe tempestades.”*

“ No ressentimento trata-se de uma determinada reação emocional face a outra reação que sobrevive e é repetidamente revivida, escavando e penetra cada vez mais no centro da personalidade. É um voltar a viver a própria emoção: um voltar a sentir, um ressentir. Em segundo lugar, a palavra implica que a qualidade desta emoção é negativa, isto é, expressa um movimento de hostilidade. Talvez a palavra rancor fosse mais apropriada para indicar este elemento fundamental da significação. O rancor é, com efeito uma zanga retida, independente da atividade do Eu, que cruza o obscuro da lama e acaba de formar-se quando os sentimentos de ódio ou outras emoções hostis revivem repetidamente; não contém todavia nenhum desígnio hostil determinado, mas nutre com o seu sangue todos os desígnios possíveis deste tipo. O ressentimento é uma autointoxicação psíquica, com causas e consequências bem definidas.”
 Mergulha-se nesta forma de ser que transfigura-nos.  Nega-se a realidade da passagem do tempo, num diálogo quotidiano com o sentimento de traição e com a convicção que o que aconteceu, não deveria ter acontecido. Acusa-se o outro, da inconsciência do risco comum. Entregamo-nos ao elogio de um conflito que nos parece, ou queremos que seja, inegociável. O que nos move, continuar, somente continuar. Mas só queremos nos sentir em paz.
Este ressentimento pode ser também por alguém que já faleceu. A zanga está em nos ter deixado, numa falta que julgamos, de momento, inconsolável. Mas também pode manifestar-se sobre nós próprios, por não sermos quem gostaríamos.  À medida que diminui o ressentimento, aumenta a preocupação e a responsabilidade.

in incalculável imperfeição
texto de Cristina Simões
* A Importância de Ser Ernesto de Barnaby Thompson





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